Sensibilidades individuais, identidades coletivas: perspectivas da história cultural |
Coordenadores: Antonio Herculano Lopes
Monica Pimenta Velloso
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Resumo: Redimensionando o conjunto das práticas e representações na dinâmica da vida cotidiana e nas sensibilidades dos indivíduos, a história cultural vem contemplando a temática das identidades como um dos seus principais focos de releitura conceitual. Mutável, plural, individual, fragmentada, contraditória, sujeita a conflitos e polêmicas de toda ordem, a idéia ou o sentimento de pertencimento social há muito extrapolou o âmbito de uma totalidade que se apresentava como coesa e harmônica. Este simpósio tem como proposta discutir a temática das identidades sociais, a partir dos sentimentos e emoções que mobilizam os indivíduos, levando-os a sentirem-se componentes ou estrangeiros a determinado grupo, e a expressar artística, intelectual e politicamente esses sentimentos. Serão consideradas as várias modalidades de linguagens e a produção dos grupos letrados e iletrados, com especial atenção a autores não canônicos.
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Programação: |
04/08 - Segunda-feira - Tarde (14h às 16h)
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Sandra Jatahy Pesavento
Com a alma em Paris, os olhos no Rio e os pés à beira do Guaíba
Ao discutir os pressupostos que presidem as sensibilidades vivenciadas na fin de siècle brasileira da passagem do século XIX para o XX, enfoca-se a obra de Zeferino Brasil, Juca o Letrado (Ensaios de psicologia mórbida), publicada em 1900.
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ROSANGELA MIRANDA CHEREM
Rodolfo Amoedo e as experimentações acadêmicas.
Em 1884 Rodolfo Amoedo apresentou um óleo sobre tela medindo 150 por 200 cm intitulado Nu com ventarola. Ocorre que esta obra apresenta um conjunto de elementos relevantes para pensar as produções pictóricas latino-americanas no último quartel do século XIX. Se por um lado pode-se constatar certos esforços de ruptura estética no seio das obras acadêmicas antes mesmo das explicitações vanguardistas, de outro modo também é possível reconhecer uma gama de procedimentos e investigações plásticas mais pela concomitância de certas sensibilidades e percepções do que como simples ecos europeus. Mesmo cumprindo expectativas de um circuito e atendendo às encomendas, alguns artistas conseguiram ultrapassar o caráter ilustrativo e/ou narrativo, guardando nos desnudos femininos todo um universo de inquietações e investigações plásticas que ultrapassavam tanto os limites de território e nação, como também de cópia e original, remetendo tanto a um ponto pretérito, cujas remotas vibrações ainda lhes afetavam como lançando prefigurações advogadas pelos modernistas que lhes sucederam.
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Monica Pimenta Velloso
A bordo do Pedro I: identidades nômades
As viagens sempre se constituíram em momentos
oportunos não só para os deslocamentos
espaço-geográficos como, também, mentais e
imaginários, estimulando a revisão de valores
culturais, enraizados no processo civilizacional.
Nessa abertura de horizontes cognitivos,
vislumbrar um "outro mundo" implica em
interiorizá-lo, passar a habitá-lo. Escrever sobre
essa experiência significa integrar o "outro" na
paisagem e dentro de si. Com base nas notas de
viagem de Mário de Andrade, publicadas,
posteriormente, em O turista aprendiz, esse texto
se propõe a analisar a escrita do autor,
enfatizando o seu empenho no sentido de construir
/desconstruir conceitos, impressões, idéias e
percepções sobre si e a brasilidade. O imaginário
de uma identidade heterogênea, conflituosa, móvel
e cindida que marca a escrita do autor será
discutido em conexão com os pressupostos da
história das sensibilidades.
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Gabriela Alexandra Mitidieri Malta Cals Theophilo, Renata Rufino da Silva, William Garcia dos Santos
Os usos de representações do passado colonial: narrativas de viajantes, textos jesuíticos e língua tupi nos manifestos e textos fundadores do modernismo literário brasileiro na década de 1920.
Dando continuidade à investigação em curso sobre movimentos literários e artísticos no Brasil da primeira metade do século XX, o trabalho proposto visa identificar, num primeiro momento, em textos de manifestos, editoriais de revistas, panfletos, poemas-programa e, em seguida, num corpus selecionado de obras (literárias, artísticas e cinematográficas) as modalidades de apropriação de representações do passado colonial. Deverá considerar esses objetos dentro dos “programas nacionais” ou das políticas culturais a que correspondem. De modo a compreender as modalidades de uso dessas representações numa determinada produção cultural do século XX, os principais pontos de apoio desta investigação são: a) o uso de relatos quinhentistas, particularmente o do alemão Hans Staden; b) o uso de determinadas representações dos jesuítas, em especial do Padre Antonio Vieira e de José de Anchieta, e estatuto da documentação jesuítica que nos foi legada; c) o uso da língua tupi como busca da autêntica nacionalidade.
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Karina Vasquez
Correspondencia, modernismo e historia cultural: un análisis de las cartas de Mário de Andrade con Manuel Bandeira
En la presentación de los trabajos reunidos en La correspondance. Les usages de la lettre au XIXe siècle, Roger Chartier señala que en nuestros días, una historia cultural redefinida por la búsqueda de una articulación entre prácticas y representaciones, encuentra en el gesto epistolar un material privilegiado a la hora de analizar cómo “cada grupo vive y formula a su manera ese problemático equilibrio entre el yo íntimo y los otros”. En esta ponencia, nuestro objetivo es analizar cómo se desenvuelve ese problemático equilibrio en la correspondencia de Mário de Andrade, en particular, aquella sostenida con Manuel Bandeira. Ciertamente, Mário diseñó toda una red de contactos a través de la correspondencia, pero en la medida en que esa red no estuvo sostenida institucionalmente; estudiar los movimientos, los modelos de amistad, el modo particular cómo circula, se socializa y se comparte la intimidad puede iluminar la comprensión del nuevo modelo de intelectual que Mário construye para sí mismo y que, en definitiva, terminó siendo identificado como el paradigma del intelectual modernista.
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05/08 - Terça-feira - Manhã (10h às 12h)
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Daniel Eveling da Silva
Os debates de “O vermelho e o negro”, de Stendhal.
Com a crescente renovação dos objetos e fontes da História, a interdisciplinaridade vem a reforçar o campo de atuação dos estudos. Para essa comunicação busco a Literatura, viso nesta abordar na obra “O vermelho e o negro”, de Stendhal, as. construções sobre a época do literato. Para isso busco a representação, em passagens especificas, da forma de pensar e agir e dos debates políticos e culturais da sociedade francesa de inícios do século XIX. A abordagem histórica deve notar as nuances das duas disciplinas envolvidas. Esse trabalho tenta demonstrar como um literato retratou em sua obra as problemáticas políticas e culturais que apareciam na França, em especial: os debates sobre a Aliança Trono- Altar, o restabelecimento de características do Antigo Regime e a formação do autor no período da Revolução Francesa e Império Napoleônico, influenciando assim sua obra. Creio que ao cruzar essas disciplinas o quadro irá se tornar mais amplo, pois ela carrega em seu interior as concepções sociais, culturais, econômicas e políticas dos objetos levantados. A comunicação tem, visto isso, o intuito de mostrar as abordagens possíveis de serem realizadas a partir da interdisciplinaridade da História com a Literatura.
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Francisco Chaves Lameirão Júnior
Torquato Neto - A resistência estética do poeta marginal
O presente trabalho tem como escopo uma visão geral, mas ao mesmo tempo detalhada de “Torquato Neto, em sua dramática resistência estética em Paupéria”, ao englobar seus antecedentes históricos, isto é, o estudo desta “Paupéria” – espaço contexto por onde sobrevoou “o anjo torto com asas de avião”, que partiu da triste Teresina, junto com todas as linguagens que “trampou”, para explodi-las sobre as areias escaldantes dos trópicos – locais em que através da intertextualidade, em seu eixo parodístico da ironia & do sarcasmo, viajou pelos tempos textuais, na prática magia da ficção cinematográfica & da poesia. Apresentou e representou Nosferatu no Brasil, o vampiro ícone do escorpião suicida, que quando cravou seus dentes em sua mordida antropofágica, eternizou “a alma maldita do menestrel do Tropicalismo”, deixou-o vivo em nossa lembrança imagética, resignificada por suas palavras poliédricas - viés multipontual do poeta do impossível - a beirar o abismo, de onde junto ao corpo físico incorporou o “corpus textual”, a saltar “pra dentro & pra fora”, como dizia. O drama da poética experimentalista de Torquato foi mantido entre os goles substanciais da loucura & da morte recorrente, “o dia D”, desta maneira fez-se irresistível & inesquecível aos seus leitores, ouvintes e espectadores.
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Luiza Larangeira da Silva Mello
A sensibilidade aristocrática. A narrativa das culturas nacionais inglesa e norte-americana na ficção e na literatura de viagem de Henry James
No ensaio “A Arte da Ficção”, de 1884, Henry James sugere que, entre as atividades que podem ser consideradas artísticas, a do romancista se afina sobretudo com aquela do pintor: ambos, para fazer jus à sua arte, não podem abandonar a pretensão de representar a vida. E o fazem através de um olhar muito semelhante. É com este olhar pinturesco que James captura não apenas as paisagens, como também as especificidades sócio-culturais dos países que visita ao longo da segunda metade do século XIX, representadas na série de relatos de viagem publicada em princípios do século XX. Esta comunicação tem por objetivo refletir acerca da comparação, presente tanto nos relatos de viagem, quanto na obra de ficção de James, entre as culturas nacionais inglesa, francesa e norte-americana, em uma época em que valores aristocráticos, em grande medida obsoletos, entram em choque ou procuram acomodar-se ao mundo simmeliano da “Filosofia do dinheiro”. Um mundo em que os princípios democráticos convivem com a primazia das relações pecuniárias, a vulgarização da arte e espaços de indistinção entre as esferas pública e privada.
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Daniel Aarão Reis
A sedução pelos bandidos e pela violência em Isaac Babel: uma pista para compreender a tragédia dos bolcheviques
A Cavalaria Vermelha e os Contos de Odessa: a sedução pela violência justa. O desmerecimento da atividade intelectual em proveito da ação prática criadora. O elogio da paixão como fator de construção e de vitória. Os bandidos como uma aristocracia da ação, da ousadia e da paixão: num mundo sem lei, a celebração dos fora da lei. A elaboração de uma escala de valores permissiva ao triunfo do livre arbítrio revolucionário. A construção da crença na ação, na força e na astúcia: uma escala de valores que legitima a ditadura revolucionária. Pistas para compreender a tragédia dos bolcheviques e certas vulnerabilidades à emergência de Stalin: tigre, leão e gato.
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Rodrigo Reis Maia
A sociedade russa vista através de seus futuristas: Um estudo de manifestos e obras
Esta comunicação pretende alcançar dois objetivos. Primeiramente apresentará de forma panorâmica a maneira pela qual podemos perceber, nos manifestos futuristas russos, indícios e afirmativas de suas opiniões e juízos a respeito do país em que viveram e do mundo à sua volta. A seguir, discutirá acerca da representatividade destes indivíduos para uma análise cultural da sociedade russa em geral, debatendo cuidados de análise necessários para se evitar simplificações e mesmo as limitações desta análise da relação entre o indivíduo e a sociedade na qual se inscreve.
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05/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 16h)
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Marcelo Timotheo da Costa
"Ex Oriente Lux: 1968 segundo Thomas Merton"
> >> A presente comunicação tem por base documental as anotações do
diário de Thomas Merton efetuadas durante o ano de 1968, o derradeiro da
vida do monge, poeta, escritor e ativista norte-americano. Cruzando
experiências individual e coletivas, pretende-se acompanhar como Merton
interpreta os eventos de um ano que se convencionou chamar de
"vertiginoso" e "único". Interpretação que, pelo exame de consciência e
escrita diários, buscava equilibrar fé em clave contemplativa e atuação
cristã no mundo, construindo também determinada identidade individual.
Exercício particular que acrescenta uma voz especial aos testemunhos
acerca de período fundamental para a história do século XX.
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FRANK DOS SANTOS RAMOS
A Questão Judaica no Brasil-Holandês: Kahal Kadosh Zur Israel, a primeira comunidade judaica permitida das Américas
A fundação da Kahal Kadosh Zur Israel, em 1636, constituiu-se na primeira comunidade judaica legal das Américas, organizada a partir da chegada de judeus sefarditas no nordeste brasílico durante a segunda Invasão Holandesa, 1630-1654. Seu estabelecimento assim como sua consolidação num meio social tão hostil aos judeus e seus descendentes como o fora na Nova Lusitânia, significou um verdadeiro revigoramento das já esmaecidas práticas religiosas tão caras aos judeus por causa das inúmeras barreiras religiosas criadas pelos governos fiéis aos princípios católicos. Portanto, a partir do respaldo legal das autoridades holandesas — e em contraponto com as demais regiões da América lusitana —, uma tolerância religiosa em grau nunca antes presenciado foi vivenciado no nordeste do Brasil. Embora tivesse curta duração, seus efeitos se fizeram sentir longamente, contribuindo decisivamente para a manutenção, lembrança e divulgação das tradições judaicas no Brasil até os dias atuais.
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Márcia Leitão Pinheiro
Religiosidade, cor e pertencimento entre os evangélicos brasileiros
Na sociedade contemporânea são encontradas possibilidades de interseções que demarcam as articulações e ações de diversos grupos. Suas ações, idéias e sentidos integram a dinâmica da diferenciação e da identificação. Nesse sentido, pode-se relacionar os (re)arranjos estabelecidos por evangélicos brasileiros que discutem as concepções e as práticas religiosas, pois apontam que essas não contemplam o contingente de fiéis negros. Diversos grupos participam dessa (re)configuração caracterizada por propostas de releitura bíblica, de revisão doutrinal e de novas práticas. Cita-se também a articulação de “mulheres negras evangélicas” que dialoga com questões diversas como, por exemplo, saúde, cor e sexismo. As iniciativas revelam o trânsito de concepções, práticas, sentimentos e discursos capazes de expressar a dinâmica do pertencimento religioso. Isso compreende tensões, pois o pertencer ao meio evangélico brasileiro deve ser fortalecido ao enfatizar as singularidades de ser “negra”/”negro”, de sua experiência religiosa. O objetivo será compreender como são construídos o discurso, a expressão religiosa e a especificidade de ser “negra/”negro”, “afro-descendente” e evangélica/evangélico. Isso também viabiliza discutir a redefinição de experiência religiosa e da dinâmica identitária.
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Larissa Oliveira e Gabarra
Memória de uma Tradição: entrevistas de congadeiros e imagens da África Central
O trabalho pretende apresentar os resultados parciais da metodologia de pesquisa aplicada para a tese de doutorado. A metodologia utilizada é a de História Oral e análise iconográfica. A originalidade reside no fato de que os entrevistados ajudam a fazer parte da analise iconográfica. As imagens dizem respeito a uma pesquisa no Museu Real da África Central, a partir de identificação do conhecimento prévio das representações simbólicas principais do congado do sudoeste de Minas Gerais e o acervo etnográfico do Museu. Os congadeiros atuais da região são estimulados a recordarem-se das histórias dos seus antepassados a partir dessas imagens. Dessa forma, entrecruzam-se informações orais do congado no Brasil com imagens e textos etnográficos da África Central e, assim, constrói-se fragmentos da história da diáspora africana.
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06/08 - Quarta-feira - Manhã (10h às 12h)
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Cláudia Mesquita
Dom João VI entre os bambas do samba não é apenas um retrato na parede.
O que pode haver em comum entre Dom João VI e os compositores Pixinguinha e Jacob do Bandolim, unidos em fotografia no Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro? Pretendemos discutir essa questão, a partir de uma reflexão acerca da sobreposição das memórias individuais e coletivas na fixação das identidades. A experiência do MIS, inaugurado em 1965 como parte de uma estratégia política e cultural do então governador Carlos Lacerda, é emblemática do papel dos museus nesse empreendimento e da tensão entre grupos e indivíduos na disputa pela hegemonia identitária carioca nos anos 60 do século XX.
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Danielle Christinne de S. Salgueiro Rodrigues.
JÚLIA LOPES DE ALMEIDA E A EDUCAÇÃO FEMININA EM DUAS OBRAS. (1886-1907)
Júlia Valentina da Silveira Lopes de Almeida, nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1862. Escritora admirada e reconhecida por seus contemporâneos, teve como preocupação maior a Educação Feminina, valorizando com seus escritos o papel da mulher na formação dos filhos, deu grande enfoque à educação de qualidade, o que possibilitaria oportunidades maiores para as mulheres na sociedade. Teve uma vasta produção literária publicada, mais de 40 volumes, classificados como contos, romances, literatura infantil, artigos para jornal, crônicas, além de obras didáticas.
Este trabalho tem como finalidade apresentar os resultados de uma pesquisa sobre a educação feminina no final do século XIX, início do XX que vem sendo desenvolvida no âmbito da História Cultural e da Educação, onde analisarei duas obras desta autora: Contos Infantis (Lisboa: Companhia Editora,1886), obra em verso e prosa, adotada nas escolas primárias brasileiras. E Histórias da nossa terra (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1907), coletânea de contos infantis. Resgatando a produção destes livros, percebendo suas expectativas no que diz respeito á mulher daquela sociedade, pretendo apontar o que é a questão feminina, nestas obras de Júlia, discutida principalmente sobre o aspecto da instrução na vida da mulher.
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Getúlio Nascentes da Cunha
Melindrosas e Almofadinhas: relações de gênero no Rio de Janeiro da décade de 1920.
Ao olharmos as revistas ilustradas cariocas da década de 1920 não existem figuras mais típicas do que as das "melindrosas" e dos "almofadinhas". Eles aparecem no final da década anterior e praticamente desaparecem na década de 1930. Desafiando patrões de comportamento estabelecidos, "melindrosas" e "almofadinhas" nos permitem discutir as definições de feminilidade e masculinidade, que são abertamente questionados pelos dois grupos. Se as "melindrosas" não têm o recato normalmente esperado de uma mulher, fumando, usando calças, tendo a iniciativa, os "almofadinhas" por sua fez não têm uma postura viril, usam maquiagem, se preocupam com as roupas. Vistos com desconfiança por muitos, eles estão presentes em boa parte da literatura da época e, é através dela que pretendemos traçar um perfil dessas personagens e da forma como construíram novas definições e relações de gênero.
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Hugo Augusto Vasconcelos Medeiros
Identidades, sensibilidades e sociabilidades no Recife dos anos 1920 e 1930
Nosso objetivo neste trabalho é analisar como as relações entre mudança e permanência, tradicional e moderno, ajudaram a construir as identidades de homens e mulheres no Recife das décadas de 1920 e 1930. Para tanto, utilizaremos os periódicos da época, onde debates intermináveis gravitavam em torno de questões ligadas a alterações nas tradições e costumes da cidade, especialmente aquelas que atingiam os espaços e as formas de sociabilidade. Os anos 1920 e 1930 representaram para o Recife um contato mais íntimo com invenções modernas como o telefone, o rádio, o cinema, o zepelim, etc.; o que provocou alterações nas sensibilidades dos homens e mulheres da cidade. A relação dos recifenses com o novo não se deu de forma “pacífica”, mas a partir de um estranhamento e de um fascínio com o novo, o moderno, que se deslocaram para as pessoas, os sujeitos que faziam uso desses novos espaços e objetos. Essa relação conflituosa produzia nomeações e identidades para si e para os outros grupos – assim, os homens e as mulheres que erravam no footing, nas danças e no flirt, eram logo chamados de almofadinhas e melindrosas –, numa tentativa de se colocar dentro do cenário da cidade de maneira satisfatória, mesmo que isso significasse esteriotipar e caricaturar.
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Frederico Machado de Barros
Raça e Arte - A arte de sangue brasileiro segundo Ariano Suassuna
O presente trabalho pretende discutir a importância da noção de raça castanha na argumentação de Ariano Suassuna ao propor a criação uma "arte erudita de raízes brasileiras" como objetivo para o Movimento Armorial. Serão rastreados os referenciais de que o escritor paraibano parte ao trazer esta noção, buscando mostrar sua importância para a compreensão de sua proposta, bem como algumas de suas especificidades. A partir disso, será mostrado como é através da noção de "raça castanha" que são definidos os elementos preferenciais para a criação de uma tal arte dentre tudo o que forma a "cultura brasileira". Assim, o trabalho buscará dar uma melhor compreensão do porquê de, principalmente no início do Movimento, as manifestações "populares" do sertão serem tão importantes na criação da arte armorial e porque progressivamente foi-se ampliando o escopo de referenciais dos artistas armoriais.
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06/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 16h)
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Tania Brandão
As cenas de papel – breves notas sobre a arte de escrever a história do teatro
O que o palco registra – uma arte, uma técnica, um ofício ou quadros da vida de uma determinada época? Responder à pergunta significa desposar um ponto de vista de historiador, pois o ato exige que a atividade da cena seja observada sob a perspectiva do tempo, que modelou o seu contorno, e das forças sociais contemporâneas, a um só tempo espectadoras e protagonistas. No entanto, como é que se escreve a História do Teatro – em que ponto ela é história, em que grau ela é teatro? A nova pergunta é uma formulação que expressa urgência, em nosso país, pois não está escrita, ainda, a história de nosso teatro. Além da imensa tarefa por fazer, temas estratégicos – e delicados – como a metodologia, o quadro conceitual e até mesmo o tratamento das fontes precisam ser focalizados, debatidos e sistematizados. Este texto é um inventário de procedimentos usados ao longo de alguns anos de dedicação à pesquisa. E é uma indagação a respeito do perfil da área de estudos. Longe de buscar respostas, o que se pretende é a ampliação da inquietude, o estímulo à busca – porque parece fundamental caminhar em direção a uma originalidade, a uma definição de olhar e de enfoque, uma distância clara em relação ao relato, ao impressionismo e a tudo o que possa negar a identidade da cena.
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Antonio Herculano Lopes
Ordem burguesa e escravidão no teatro de Alencar
Refletindo as aspirações e sentimentos de parte da intelectualidade fluminense em meados do século XIX, Alencar fez representar no Ginásio Dramático uma série de peças logo saudadas como expressão dos tempos novos, contrapondo-se ao Romantismo ultrapassado que o ator João Caetano encarnava. Através da análise desses textos dramáticos e de sua repercussão naquele momento, podemos acompanhar alguns dos dilemas mais excruciantes que cabeças bem-pensantes enfrentavam na encruzilhada das ordens escravocrata e burguesa.
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Tatiana Oliveira Siciliano
“Nos trilhos do conto de Arthur Azevedo”: cotidiano e adultério no Rio de Janeiro da virada do século XIX para o XX.
O Rio de Janeiro, da passagem do século XIX para o XX, é o principal cenário dos escritos do maranhense Arthur de Azevedo (1855-1908). Mais conhecido por sua obra teatral, Arthur Azevedo foi um jornalista atuante – colaborou em diversos jornais da época e foi também funcionário público, sendo colega de Machado de Assis na repartição. Assim como Machado, Arthur participou do burburinho intelectual da época, sendo também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Pretendo analisar quatro contos desse autor - “Black”, “O telefone”, “Ardil” e “A Barca”, publicados entre 1894 e 1908 – como “sinais”, no sentido usado por Ginzburg, das transformações sociais que estavam ocorrendo na recém capital federal, especialmente quanto aos aspectos de sociabilidade e do uso do espaço público. As tramas, nas quais os personagens dos contos estão imersos, nos permite seguir suas trilhas, desvendar alguns de seus “indícios”, interpretando a dinâmica da ação social e o significado que os atores atribuíam a ela. A partir de seus rastros é possível entender certos aspectos do espírito do tempo, como as novas possibilidades de individualização proporcionadas pela urbanização que ampliaram o campo de possibilidades dos encontros amorosos e da manipulação dos “jogos de sedução” na cidade.
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Henrique Buarque de Gusmão
Um poeta reacionário em luta contra o processo de desumanização
Nelson Rodrigues, consagrado dramaturgo brasileiro do século XX, além de suas 17 peças teatrais, produziu um imenso número de crônicas jornalistas em que discute questões políticas, sociais, econômicas, esportivas e estéticas. Através da leitura destes textos, é possível se pensar as diversas tensões e polêmicas nas quais o autor se envolve, as alianças políticas e culturais que busca, as concepções e escolhas estéticas que irão possibilitar a escrita de suas peças e observa-se, também, elementos de um projeto estético muito próprio. A partir de uma perspectiva reacionária, Nelson busca, através de seus textos teatrais, uma forma de reverter o processo de desumanização em curso com o comunismo, a psicanálise, a força dos jovens, etc. Somente a força ficcional dos excessos tão próprio de sua dramaturgia poderia purificar esta sociedade em que os jovens não dão mais valor ao sexo, ao amor e a diversos valores construídos através dos séculos. Esta comunicação propõe uma discussão tendo em vista esta relação que se constrói entre os textos jornalísticos de Nelson Rodrigues e suas peças teatrais, tendo um foco específico sobre o projeto estético que o autor desenvolve, que se explicita nos jornais e que gera a condição de possibilidade de seus textos teatrais.
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07/08 - Quinta-feira - Manhã (10h às 12h)
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joice farias daniel
A comemoração do Ano Novo Chinês:a descoberta de uma identidade.
Uma das festas mais habituais da China começou a ser celebrada no Brasil. É o Ano Novo Chinês , que em dois dias de celebração atraiu para o evento, cerca de 200 mil pessoas entre organizadores e visitantes e assim colocou em evidência uma comunidade unida por laços de pertencimento étnicos, manifestando uma cultura que provavelmente ainda é pouco conhecida dos brasileiros como sendo parte também da cultura nacional.
Neste sentido se pretende abordar nesta comunicação algumas questões referentes ao fenômeno da Diáspora Chinesa, refletindo sobre o processo de construção da identidade dos chineses e taiwaneses que vivem no Brasil. Como estes imigrantes se sentem na atualidade? Compartilham da identidade nacional brasileira? O que fizeram com sua identidade étnica? O que sobreviveu de sua antiga identidade nacional? Deseja-se discutir em torno das recentes comemorações do Ano Novo Chinês em São Paulo as permanências, as rupturas e as transformações das tradições chinesas no Brasil bem como refletir sobre a existência de uma identidade étnica paralela a identidade nacional. Ou seja, intenta-se discutir o modo como esses imigrantes chineses e taiwaneses reconstruíram e adaptaram suas vidas - social e cultural - no Brasil.
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Rafael Damaceno Dias
Identificações numa Florianópolis nada tranqüila: conflitos entre manés e forasteiros nas últimas décadas do século XX
Nas últimas décadas do século XX os moradores de Florianópolis se viram envoltos em profundas alterações que se desdobraram do plano urbano ao demográfico o que os obrigou a repensar os termos que até então ordenavam sua sociabilidade e, sobretudo, a reorganizar sua identidade. Tal recriação cultural implicou negociar a posição dos novos atores sociais o que levou a definição de novos termos de identificação com o intuito de promover a inclusão ou exclusão deles em relações estabelecidas existentes desde longa data na cidade. Há evidências de que nesse processo, designativos como mané da ilha, utilizados para organizar as relações sociais na cidade alçaram uma nova condição, passando a remeter a identificações sociais desejáveis notadamente para as camadas sociais médias e altas da sociedade florianopolitana. Essa pesquisa apresenta algumas interpretações sobre essas evidências articuladas a partir das fontes selecionadas, as quais se referem fundamentalmente aos textos produzidos, durante as décadas de 1980 e 1990, pelos jornalistas Cacau Menezes e Aldírio Simões que eram veiculados nos principais periódicos de circulação na cidade.
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Danyllo Di Giorgio Martins da Mota
Brasilidade e Paulistanidade: a obra de Monteiro Lobato entre o nacional e o regional
Este trabalho procura discutir o conceito de paulistanidade e estabelecer possíveis relações com a obra de Monteiro Lobato no que tange a formação e nacionalização de uma identidade paulista na obra do autor. Considerando que o conceito de paulistanidade é ainda um problema pouco explorado pela historiografia, buscaremos os indícios de sua origem, seus significados e suas apropriações. Vislumbramos através dessa busca, reproblematizar alguns posicionamentos de Monteiro Lobato e sua relação com os intelectuais de seu tempo no tratamento dos problemas relacionados à Identidade cultural, em uma relação conflituosa entre o regional e o nacional.
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Luiz Carlos Vieira
A mística no MST: Identidade coletiva, sensibilidades e pertencimento.
A presente reflexão foi fruto de minha participação no 5º Congresso do MST, como convidado, onde acompanhei a delegação do MST do Rio de Janeiro. O evento além do caráter político e definidor dos novos rumos do MST e suas ações para os próximos anos, também se configurou numa grande festa de encontros e reencontros entre os militantes. Esta reflexão é fruto de minha observação do evento para tentar compreender como os eventos dos movimentos sociais se configuram em espaços de sociabilidade e como estes são permeados por rituais, necessários à formação da identidade política, a identidade de sem-terra, através da formação simbólica da subjetividade dos indivíduos. Foram observadas em especial, as místicas na plenária do congresso, enquanto ritual, e a manipulação dos objetos simbólicos nelas contidas, como integrador e gerador de pertencimento, que proporciona a criação de capital simbólico apropriado pelas lideranças do movimento e se constitui numa forma necessária a reprodução do MST enquanto movimento de massa.
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Camila Christiana de Aragão Tavares
Cidadania, Etnia e Memória na Construção da Identidade de Jovens Nipo-Brasileiros
A pesquisa focaliza as relações entre cidadania, etnia e memória a partir de um estudo com jovens descendentes de imigrantes japoneses, filhos de agricultores que se fixaram em Minas Gerais no início dos anos 1980, no município de Paracatu. Com o recurso à metodologia da história oral, foram realizadas entrevistas para conhecer os valores, percepções e sentimentos que essa parcela de jovens brasileiros de ascendência nipônica tem de seus antepassados japoneses. As entrevistas já realizadas permitem observar que a nova geração de nipo-brasileiros se identificam como cidadãos brasileiros, com gostos, atitudes e valores comuns aos jovens de suas geração, ainda que respeitem e cultivem alguns valores que associam à cultura japonesa, tais como o gosto pela alimentação e a disciplina na rotina de vida.
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07/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h)
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Maria de Fátima Oliveira
Identidade nas margens do Rio Tocantins
Trata-se de um estudo sobre memória e identidades nas margens do Rio Tocantins. O objetivo principal é mostrar como, em um determinado espaço e tempo, uma identidade foi se construindo, se fragmentando e se reconstruindo devido às transformações ocorridas na região e como valores partilhados e sedimentados por ribeirinhos ao longo dos séculos foram se transformando em resposta às rupturas. O estudo tem como suporte uma multiplicidade de fontes: relatos de viajantes, relatórios técnicos, jornais, revistas, fotografias, diários, correspondências, literatura regional, etc. e aborda: a) os aspectos geofísicos do rio, o processo de penetração e ocupação da região, as relações interétnicas resultantes do contato entre os diferentes; b) os projetos, discursos e debates em torno da questão da busca de uma saída via rio Tocantins para a Província de Goiás; c) o cotidiano do ribeirinho na reinvenção de um modo de vida pautado em suas experiências - no constante movimento em viagens rio adentro e rio afora - e como eles responderam ao impacto das mudanças que se processaram nas margens desse rio.
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deusdedith alves rocha junior
Narradores de São Jorge - Memória de garimpeiros de cristal
A ocupação do Nordeste goiano, na primeira metade do século XX, foi marcada por um intenso fluxo migratório motivado pelo garimpo de cristal. Formou-se ali uma identidade específica a partir de uma forma peculiar de garimpo, cuja participação feminina é intensa. A história de São Jorge apresenta, assim, um referencial de marcos históricos e elementos culturais próprios, que se revelam através da oralidade.
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Vera Lúcia Caixeta
Ação Missionária Católica: Pe. Tonini, no Setão Goiano (1952-1959)
Trata-se da experiência de um jovem padre italiano, Quinto Tonini, pertencente à congregação “Pequena Obra da Divina Providência”, que na década de cinqüenta do século XX, foi missionário no sertão goiano. Em uma região, localizada entre os rios Araguaia e Tocantins, distante dos principais centros de poder, a ação de um padre, formado também em enfermagem, fez a diferença para enfrentar a ausência do Estado e a presença dos “protestantes” ali estabelecidos. No processo de constituição de uma comunidade de fiéis católicos romanizados - sempre presente no “horizonte de expectativas” do missionário - (catolicismo este caracterizado pela paróquia, missa dominical, participação nos sacramentos, associações pias, festa do padroeiro, procissões, catequese, escola paroquial, etc.), ressalta-se, principalmente, a especificidade da ação do homem, do missionário. Na sua ação religiosa destaca-se as atividades sacramentais realizadas no “sertão”, através de longas viagens a cavalo, para realizar a “desobriga”; na área social e educacional, constrói a escola paroquial e forma a associação das “samaritanas socorristas”. Naquele “espaço de experiência” extremamente exigente, um jovem missionário católico, pode concretizar seus sonhos, contudo, teve que se integrar na cultura local.
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Alexandre de Oliveira Karsburg
Povo de alma devota em tempos de Revolução
A história do Rio Grande do Sul oitocentista foi repleta de conflitos armados que criou entre o povo um sentimento peculiar. Não se trata de bravura, valentia, gosto pela peleja ou apreço pela liberdade: estamos falando da incerteza. As guerras nas quais o rio-grandense se viu envolto – por ser região de fronteira – fez com que a imprevisibilidade de suas vidas aumentasse, insegurança redimensionada porque havia outros problemas a serem enfrentados, como secas e fome, bem como epidemias que assolavam a sociedade constantemente. Pois foi nesse contexto de instabilidade física e psíquica que o bispo do Rio de Janeiro, dom Manoel Rodrigues de Araújo, em 1845, chegou ao Rio Grande do Sul em visita pastoral. Tendo como objetivo averiguar a situação da Igreja, deparou-se com pobreza, decadência e abandono. Em seus relatórios particulares, percebeu uma população devota, que se aglomerava em filas intermináveis para receber o Sacramento da Crisma. Contudo, não pode visitar o extenso território sulino, recentemente abalado por uma revolta de estancieiros (Revolução Farroupilha) que gerou um Cisma Eclesiástico. Nossa proposta é tecer um panorama dessa visita pastoral percebendo as impressões de um bispo reformador ao deparar-se com um povo devoto, mas longe do catolicismo oficial.
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