Memórias, identidades e conflitos sociais |
Coordenadores: Marco Aurelio Santana
Icleia Thiesen
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Resumo: O presente Simpósio pretende discutir os processos de construção e reconstrução da memória social, numa perspectiva interdisciplinar, refletindo sobre as estratégias de apropriação e usos do espaço, tanto físico como social, e seus reflexos na afirmação da identidade de grupos, gêneros, comunidades, etnias. Nesse sentido, estarão em tela as relações de poder e resistência geradoras de conflitos sociais diversos, por exemplo, no âmbito da cultura e do trabalho. A reflexão acerca dos conflitos sociais, em seus níveis macro e micro, tem na análise da construção e reconstrução da memória social e da identidade um suporte extremamente valioso. No engendramento e desenrolar de tais conflitos, tanto memória quanto identidade desempenham um papel que pode ser considerado central. Elas são, a um só tempo, local de controle e resistência, palco de práticas de homogeneização e lugar de afirmação de diferença.
Pode-se dizer que não há memória sem disputa, nem conflito que não produza memórias e identidades. Muito menos se pode falar de identidade(s) sem referência a algum tipo de memória e conflito. Desta forma, pensar as formas de elaboração da memória e dos processos identitários é lançar luz, de uma perspectiva particular, sobre o conflito social, seus discursos e suas práticas, construídos social e historicamente. Assim, memória e identidade estão vinculadas e associadas em sua construção, no sentido em que a memória pode costurar rupturas temporais e espaciais, servindo também como resistência à alteridade. Tal abordagem do passado se mostra justificada numa época em que se evidenciam processos de desterritorialização que redesenham o perfil dos grupos e das cidades, afetando as concepções de pertencimento, alteridade e identidade.
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Programação: |
04/08 - Segunda-feira - Tarde (14h às 16h)
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Barbara Nunes Alves Loureiro
Memória e Espaço: A inserção dos presos políticos nos presídios do Estado do Rio de Janeiro
Dentre as instituições fluminenses que abrigaram os opositores do regime militar brasileiro (1964-1985), o estudo analisa as experiências dos ex-presos políticos nos cárceres da Ilha Grande, Milton Dias Moreira e na Fortaleza de Santa Cruz. Para a realização deste trabalho, utilizamos como metodologia principal a História Oral. Através de entrevistas cedidas por esses indivíduos foi possível evidenciar detalhes muitas vezes omitidos por outras fontes de pesquisa. Desta forma, procurou-se caracterizar as especificidades nas relações do indivíduo com o espaço prisional e identificar o processo de construção de uma memória coletiva e formação de uma identidade entre aqueles que permaneceram enclausurados no período em questão. Essa memória produzida manteve-se em silêncio durante um longo período devido às razões políticas de intimidação e repressão.Assim, este trabalho tem como finalidade reconstruir alguns desses relatos que se opunham ao discurso oficial, buscando a valorização do papel dos ex-presos políticos no curso da história e a compreensão do período da ditadura militar através da ótica prisional.
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Edson Medeiros Branco Luiz
A Atuação Política da Ordem dos Advogados do Brasil durante o Regime Militar - 1969 a 1985
O presente artigo visa analisar a Atuação Política da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB – durante o Regime Militar. Sistema autoritário ocorrido entre 1964 a 1985, balizado por um Ordenamento Jurídico no qual restringiu e cerceou direitos, garantias e liberdades fundamentais. Entretanto, será conferida ênfase entre os anos de 1969 a 1985, tendo como marco a expedição do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, até a eleição indireta de Tancredo Neves e José Sarney para a Presidência da República, em 15 de janeiro de 1985. A OAB como Instituição da Sociedade Civil mobilizou contra o Regime Autoritário, questionando sua legitimidade e legalidade dos atos emanados, apresentando intensa participação; especialmente, contra os tratamentos degradantes, prisões arbitrárias, torturas e, a favor da restauração dos direitos, garantias e liberdades fundamentais, anistia política e redemocratização.
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Bianca Izumi Maeda, Fabio Villani Simini
Memória e Espaço: A inserção dos presos políticos nos presídios do Estado do Rio de Janeiro.
Dentre as instituições fluminenses que abrigaram os opositores do regime militar brasileiro (1964-1985), o estudo analisa as experiências dos ex-presos políticos nos cárceres da Ilha Grande, Milton Dias Moreira e na Fortaleza de Santa Cruz. Para a realização deste trabalho, utilizamos como metodologia principal a História Oral. Através de entrevistas cedidas por esses indivíduos foi possível evidenciar detalhes muitas vezes omitidos por outras fontes de pesquisa. Desta forma, procurou-se caracterizar as especificidades nas relações do indivíduo com o espaço prisional e identificar o processo de construção de uma memória coletiva e formação de uma identidade entre aqueles que permaneceram enclausurados no período em questão. Essa memória produzida manteve-se em silêncio durante um longo período devido às razões políticas de intimidação e repressão.Assim, este trabalho tem como finalidade reconstruir alguns desses relatos que se opunham ao discurso oficial, buscando a valorização do papel dos ex-presos políticos no curso da história e a compreensão do período da ditadura militar através da ótica prisional.
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Maria Fernanda Magalhães Scelza
“Greve de fome na Ilha das Flores! Grandioso exemplo de luta dos companheiros presos!”: narrativas, memórias e resistência no Regime Militar.
O presente trabalho trata da formação da memória coletiva de ex-prisioneiros políticos do presídio da Ilha das Flores. São analisadas as experiências vividas e as relações estabelecidas entre eles e os militares durante o período de 1969-1971, focando nas atuações no que diz respeito à resistência dentro do próprio cárcere. O trabalho, em andamento, é marco de partida para estudos sobre impressões da época, onde os atores sociais foram submetidos a um processo seletivo, fruto do silenciamento e esquecimento dos fatos vividos em experiências limites. Assim, é possível a reconstrução de fragmentos que contribuem para os estudos sobre a memória prisional construída e (re) significada em referência ao espaço da prisão.
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Karla Guilherme Carloni
Esquerda militar no Brasil: lulta por cidadania
Alguns poucos militares de esquerda ficaram conhecidos pelo registro que encontramos na historiografia brasileira. Entretanto, poucas são as obras que se dedicaram a estudar exclusivamente os grupos que se desprenderam da identidade conservadora das Forças Armadas e lutaram pela ampliação da cidadania.
Entre as diversas seqüelas sociais deixadas pelo Golpe de 1964, uma atingiu diretamente os militares de esquerda – a tentativa, em grande parte bem sucedida, de calar os “vencidos” e apagar da memória social a sua existência. Não é coincidência que um bom número dos Inquéritos Policiais Militares (IPMs), abertos durante o Regime Militar, tenha atingido homens da própria corporação.
O presente trabalho tem como objetivo suscitar o debate sobre a presença de militares de esquerda na história recente do país. Para isso propõe a analise de três momentos marcantes na história das Forças Armadas: o contra-golpe ou golpe preventivo de novembro de 1955; a Revolta dos Sargentos, em setembro de 1963; e a Revolta dos Marinheiros, em março de 1964. Nacionalistas, a evolução destes movimentos pode ser interpretada como sintoma da radicalização das lutas populares na sociedade brasileira e das cisões no seio das Forças Armadas, ao longo das décadas de 1950 e de 1960.
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Janaina Martins Cordeiro
Lembrar o passado, festejar o presente: as comemorações do Sesquicentenário da Independência entre consenso e consentimento (1972)
Esta comunicação propõe analisar as comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil, realizadas no decorrer do ano de 1972 pela ditadura civil-militar então vigente. A idéia é analisar este evento como um momento privilegiado para observar as relações entre a sociedade brasileira e o regime militar em sua complexidade, buscando ultrapassar a lógica, por vezes simplificadora que coloca de um lado um Estado opressor e de outro, uma sociedade vitimizada. A partir do estudo dessas comemorações, busca-se recuperar os debates em torno da memória construída sobre o regime civil-militar.
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05/08 - Terça-feira - Manhã (10h às 12h)
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Ana Maria da Costa Evangelista
A gente quer comida diversão e arte: revisitando o Serviço de Alimentação da Previdência Social, um legado varguista
O Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), autarquia fundada em 1940, cuja proposta era fornecer alimentação digna e barata para a classe trabalhadora, através de Restaurantes Populares, fez parte das políticas sociais do governo Vargas. Agregadas a esses restaurantes, nasceram as Bibliotecas e Discotecas Populares também destinadas às camadas mais baixas da população. Esses serviços foram extintos pelo governo ditatorial militar em 1967. A idéia nuclear do presente estudo é revisitar a existência e funcionamento do SAPS na capital da República, o Rio de Janeiro. Para além do processo rememorativo, buscou-se compreender o sentido dado pelas camadas populares urbanas, a essa iniciativa que lhes propiciava alimentação e cultura. Os dados arquivísticos, bibliográficos e orais dessa pesquisa foram analisados à luz de pressupostos teóricos da história sócio-cultural. Nessa análise privilegiou-se a interpretação do getulismo pela via da cultura política popular, ressaltando-se o conjunto de ganhos materiais e simbólicos auferidos pelos trabalhadores, a despeito de toda repressão do período Vargas.
Palavras-chave: SAPS – alimentação – cultura - trabalhadores
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Luanda de Oliveira Lima, Luna Ribeiro Campos, Márcia Regina Castro Barroso, Paulo Roberto Torres Alves
Mobilização na cidade do aço: memórias da greve na CSN-1988
O trabalho analisa a greve dos operários da CSN, em Volta Redonda, realizada em 1988, representando um marco na História do sindicalismo do período. Isso será feito a partir da memória dos militantes que atuavam no movimento sindical. A pesquisa utiliza não só periódicos e folhetins que circulavam na época, como a literatura acadêmica sobre o assunto. Lança mão também da metodologia da História Oral desenvolvida através de entrevistas com vários atores sociais participantes deste movimento.
Em novembro de 1988, os 23 mil trabalhadores da CSN decidem entrar em greve, em um movimento que durou 17 dias. Os metalúrgicos ali reivindicavam reposição salarial, readmissão dos demitidos nas greves anteriores e o pagamento de horas extras, com a redução do turno de trabalho de 8 para 6 horas, prevista na Constituição. Neste processo, 3 mil operários ocuparam a empresa. Entretanto a repressão foi grande: tropas do exército se dirigiram para a cidade numa ação que resultou na morte de três trabalhadores grevistas.
Esse evento deixou marcas profundas na memória dos trabalhadores. Através das suas falas podemos observar várias facetas das suas articulações, as quais não podem ser percebidas em outros tipos de fontes. Ganhamos assim em complexidade e riqueza no entendimento deste evento
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Edinelia Maria Oliveira Souza
A liberdade e o trabalho no pós-abolição em memórias de populações negras do Recôncavo Sul da Bahia
Este trabalho pretende perceber como os rastros de memória sinalizam as experiências da escravidão e da liberdade no recôncavo sul baiano, bem como busca identificar como as populações negras egressas da escravidão construíram e reinventaram relações de trabalho e práticas de luta pela cidadania nessa área, que, ao que tudo indica, não fora formada por grandes propriedades rurais, uma vez que também não houve grande número de escravos nessas propriedades aí estabelecidas, sobretudo no final do século XIX. Dessa forma, as memórias orais, ainda que sejam recriadas a partir de relatos de netos ou bisnetos de escravos, cruzadas com memórias impressas em periódicos são significativas para a uma possível reconstituição de trajetórias dos negros no pós-abolição, além de permitir refletir sobre os silenciamentos, os esquecimentos do passado. Portanto, trata-se aqui de tentar apreender os arranjos, as estratégias de sobrevivência inventadas por esses sujeitos, ao enfrentar as adversidades, as forças hegemônicas e a necessidade de continuar lutando pela liberdade no contexto da Primeira República.
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Viviane de Oliveira Barbosa
Conflitos, Memórias e Identidades na Terra do Babaçu (Maranhão/1969-2002)
Entre os anos 1969 (ano de implantação da lei Sarney de Terras) e 2002 (ano de institucionalização do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB) quebradeiras de coco babaçu mobilizaram-se no Maranhão, estado marcado por intensos e violentos conflitos agrários. Objetiva-se demonstrar que tensões e negociações tecidas em torno das relações de gênero, da memória e de múltiplos pertencimentos são elementos estruturantes da constituição do MIQCB. O processo histórico de luta pelo acesso aos babaçuais foi interpretado pelos sujeitos envolvidos com a quebra do coco a partir de suas próprias perspectivas; os tempos “do coco liberto”, “do coco preso” e “do fogo” são expressões reificadas em sua memória coletiva para se referirem às situações conflitivas vivenciadas particularmente com fazendeiros, jagunços e juízes. Há uma descontinuidade entre as áreas de ocorrência de babaçuais e os espaços de atuação política do MIQCB; as divisões cartográficas tradicionais são re-elaboradas pela atuação das quebradeiras, que se pensam translocalmente. A (re)construção da memória social relaciona-se às estratégias de apropriação e usos do espaço, o que tem reflexos na afirmação das identidades das quebradeiras de coco, cujos pertencimento, alteridade e memória se interconectam.
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Gleyson Nunes de Assis
Lyndolpho Silva e a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB) (1954-1964)
Este trabalho tem como objetivo apresentar de forma sumária a pesquisa em desenvolvimento sobre a formação da liderança de Lyndolpho Silva que, além de ter sido militante do Partido Comunista Brasileiro, era uma liderança referencial para os movimentos dos trabalhadores rurais do Brasil. O enfoque específico da pesquisa é analisar a trajetória de Lyndolpho Silva na luta social no campo, travada ao longo de sua existência, no entanto, privilegia-se como foco analítico o período democrático brasileiro de 1946 a 1964.
Desde 1946, quando se filiou ao PCB. Inicialmente, militou na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, tendo sido secretário do Comitê Distrital de seu partido naquela região. Sua experiência política no campo começa em 1952, com o trabalho entre os posseiros da região de Campo Grande, Santíssimo e Senador Camará, dentro da área sob responsabilidade daquele Comitê. Na II Conferência Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, em 1954, é eleito 1o Secretário da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas (ULTAB), entidade que passará a presidir em 1959. Em dezembro de 1963 deixa a presidência da ULTAB para presidir a recém criada Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).
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05/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 16h)
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Cláudio Márcio Lima Prado
Estado, Nacionalismo e Ideologia - os projetos dos atores políticos palestinos para a "institucionalização" do Estado Palestino a partir dos acordos de Oslo (1993).
Os acordos de Oslo representaram um marco histórico na tentativa de solução do conflito israelo-palestino, servindo de referência para as conversações posteriores. Passados quase quinze anos, tornou-se evidente o fracasso do "processo de paz" iniciado sob os termos de Oslo. Apesar dos acordos assinados pelas lideranças palestinas e israelenses, muitas questões de importância capital para a criação/institucionalização/legitimação e o reconhecimento de um Estado Palestino soberano continuam latentes ou com o status de "não negociáveis": o retorno dos refugiados palestinos, o controle israelense sobre toda Jerusalém, a administração palestina sobre parte dos territórios ocupados não se traduziu em autonomia política, as fronteiras e estradas continuam sendo controladas pelo exército israelense, etc. O objetivo deste trabalho é investigar como se processou a atuação dos diferentes atores políticos palestinos - autoridade palestina, partidos, classes médias, massas, intelectuais, refugiados, etc. - nos acordos de paz e no processo de criação/institucionalização do Estado Palestino após os acordos de Oslo.
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Pedro Maron de Azevedo Severiano
Trabalhadores, Política e Cidade:Sindicato e Movimentos Sociais em Volta Redonda na década de 1980.
Durante a década de 1980 o Brasil foi palco de diversas manifestações sociais no bojo do processo de redemocratização. Na cidade de Volta Redonda (RJ), em particular, as mobilizações nesse período foram marcadas pela intensa articulação entre sindicatos, a sociedade civil organizada e setores progressistas da Igreja. Esses anos ficaram gravados na memória dos agentes sociais envolvidos como uma época "vitoriosa" e de "lutas" em que as diferentes reivindicações se somaram às questões do sindicato, e este, por sua vez, levou suas práticas para fora do âmbito fabril.
O presente trabalho tem como foco analisar o processo histórico de articulação das mobilizações entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda e os movimentos sociais locais. Assim foi possível perceber suas principais lutas e as disputas em torno da construção da memória desse período. A pesquisa é feita analisando a literatura geral sobre o tema, assim como fontes de imprensa e sindicais, além da utilização da história oral que, através de entrevistas com atores locais, tornou possível a observação de aspectos subjetivos, enriquecendo o trabalho.
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Daniel de Freitas Moura, Gabriela Almeida Kronemberger
Trabalhadores, Política e Cidade: Sindicato e Movimentos Sociais em Volta Redonda na década de 1980
Durante a década de 1980 o Brasil foi palco de diversas manifestações sociais no bojo do processo de redemocratização. Na cidade de Volta Redonda (RJ), em particular, as mobilizações nesse período foram marcadas pela intensa articulação entre sindicatos, a sociedade civil organizada e setores progressistas da Igreja. Esses anos ficaram gravados na memória dos agentes sociais envolvidos como uma época "vitoriosa" e de "lutas" em que as diferentes reivindicações se somaram às questões do sindicato, e este, por sua vez, levou suas práticas para fora do âmbito fabril.
O presente trabalho tem como foco analisar o processo histórico de articulação das mobilizações entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda e os movimentos sociais locais. Assim foi possível perceber suas principais lutas e as disputas em torno da construção da memória desse período. A pesquisa é feita analisando a literatura geral sobre o tema, assim como fontes de imprensa e sindicais, além da utilização da história oral que, através de entrevistas com atores locais, tornou possível a observação de aspectos subjetivos, enriquecendo o trabalho.
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Renan Elisio Fernandez de Faria
Trabalhadores, Política e Cidade: Sindicato e Movimentos Sociais em Volta Redonda na década de 1980.
Durante a década de 1980 o Brasil foi palco de diversas manifestações sociais no bojo do processo de redemocratização. Na cidade de Volta Redonda (RJ), em particular, as mobilizações nesse período foram marcadas pela intensa articulação entre sindicatos, a sociedade civil organizada e setores progressistas da Igreja. Esses anos ficaram gravados na memória dos agentes sociais envolvidos como uma época "vitoriosa" e de "lutas" em que as diferentes reivindicações se somaram às questões do sindicato, e este, por sua vez, levou suas práticas para fora do âmbito fabril.
O presente trabalho tem como foco analisar o processo histórico de articulação das mobilizações entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda e os movimentos sociais locais. Assim foi possível perceber suas principais lutas e as disputas em torno da construção da memória desse período. A pesquisa é feita analisando a literatura geral sobre o tema, assim como fontes de imprensa e sindicais, além da utilização da história oral que, através de entrevistas com atores locais, tornou possível a observação de aspectos subjetivos, enriquecendo o trabalho.
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Wilza Betania dos Santos
Gabinete Português de Leitura de Pernambuco:Re-construindo identidades e simbologias do ser imigrante português
O Gabinete Português de Leitura de Pernambuco (GPL-PE) foi criado em 1850, período em que a controvérsia em torno da nacionalização do comércio em mãos portuguesas era ainda recorrente. O estudo sobre esta instituição remete-nos ao exame dos fatos sociais onde os comportamentos de determinados grupos sociais, nesse caso a comunidade portuguesa de Pernambuco, emergem como centro de análise. Nesse sentido, a preocupação da História Social será à busca dos problemas históricos específicos quanto ao comportamento e às relações entre os diversos grupos sociais. Adotando o viés teórico de F. Barth (1969), o qual chama atenção para a importância das fronteiras na vontade dos grupos étnicos se diferenciarem – além de afirmar que estes persistem mesmo quando estão envolvidos em relações de conflitos com outros grupos – consideramos nesta análise os aspectos que os próprios atores avaliaram como importantes para a sua diferenciação. Os portugueses fizeram uso da alocução da fraternidade e apresentaram o GPL-PE como um sinal de sua gratidão aos seus irmãos pernambucanos, respaldando-se nas narrativas do passado. Nessa conjuntura, o GPL-PE pode ser visto como resposta aos discursos antilusitanos e como o formalizador dos laços de solidariedade entre os portugueses em Pernambuco.
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Marcela Maria Freire Sanches
Nova Andaluzia: o processo de construção e reconstrução da memória e resistência da intelectualidade árabe no Rio de Janeiro
Este trabalho compreende as idéias centrais a ser apresentadas na pesquisa de dissertação onde discuto as relações de construção e reconstrução da memória e as formas de resistências criadoras da intelectualidade árabe no Rio de Janeiro, no período de 1920 a 1950.
O grupo reconstruiu sua identidade étnica a partir de um movimento cultural e literário Liga Andaluza, uma revista e o ideal de cidade imaginária Nova Andaluzia, no espaço carioca. Investigamos de como se processou a construção desta memória a partir das lembranças do espaço, Andaluzia, que originariamente, não era do grupo, mas uma referencia simbólica da ascensão cultural, árabe e de grandes hibridismos culturais do século VIII.
Como se estruturou esta reconstrução da Nova Andaluzia, no século XX - configurando-se um espaço de imigração-, a construção do movimento cultural e revista Liga Andaluza, como instrumentos de resistência política e cultural utilizado pelo segmento étnico no exílio, contra as opressões do colonialismo do Império Turco Otomano em seus paises de origem, a Síria e o Líbano. Em síntese investigamos como a identidade do grupo é reconstruída a partir das memórias, dos encontros culturais e os mecanismos de resistência criados no exílio.
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Vera Lucia Cortes Abrantes
A construção da memória social: fotografia, trabalho feminino e identidade nacional (1949-1968)
O estudo tem por objetivo investigar a produção imagética do fotógrafo Tibor Jablonszky, no que se refere às representações construídas sobre trabalho rural exercido por mulheres e meninas, segundo o ponto de vista do profissional a serviço de uma instituição de governo. Sabendo que se trata de um acervo fotográfico produzido durante as excursões geográficas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE no sentido de se construir um corpo de conhecimentos sobre o Brasil, procuramos ainda caracterizar as condições de produção do arquivo fotográfico e seu uso como fonte histórica para a reconstrução da memória do trabalho no país.
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06/08 - Quarta-feira - Manhã (10h às 12h)
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Ana Teresa A. Venancio, Laurinda Rosa Maciel, Sílvia Monnerat Barbosa
História Oral dos Moradores do Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios da Colônia Juliano Moreira - RJ
Resultado do projeto Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios: História e Preservação Patrimonial, (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz), este trabalho tem como objeto central a herança cultural das famílias moradoras locais que se relacionam direta ou indiretamente com a área da saúde, através do trabalho e da convivência com pacientes da Colônia Juliano Moreira (CJM). Construído em 1943, para abrigar pacientes tuberculosas internadas na CJM, na década de 1970, diante de seu paulatino desuso e decadência, foi sendo habitado por antigos trabalhadores da CJM, seus familiares e ocupantes sem vínculo com a instituição. Dadas as condições do prédio, com risco para seus moradores, em 2003 inicia-se o processo de desocupação do imóvel, localizado em terras já então cedidas pelo Ministério da Saúde à Fiocruz. A partir da consulta a fontes documentais e da realização de 10 entrevistas com representantes de famílias que habitavam o pavilhão, analisamos os processos de ocupação e remoção por indenização deste pavilhão assistencial. A partir de uma analise da história oral, visa compreender as relações desses moradores com esse espaço hospitalar específico para doentes mentais, que também foi constitutivo da vida dos sujeitos entrevistados pela via da moradia e de sua sociabilidade.
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Bruno Dallacort Zilli de Jesus
História Oral dos Moradores do Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios da Colônia Juliano Moreira (RJ)
Resultado do projeto Pavilhão Nossa Senhora dos Remédios: História e Preservação Patrimonial, (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz), este trabalho tem como objeto central a herança cultural das famílias moradoras locais que se relacionam direta ou indiretamente com a área da saúde, através do trabalho e da convivência com pacientes da Colônia Juliano Moreira (CJM). Construído em 1943, para abrigar pacientes tuberculosas internadas na CJM, na década de 1970, diante de seu paulatino desuso e decadência, foi sendo habitado por antigos trabalhadores da CJM, seus familiares e ocupantes sem vínculo com a instituição. Dadas as condições do prédio, com risco para seus moradores, em 2003 inicia-se o processo de desocupação do imóvel, localizado em terras já então cedidas pelo Ministério da Saúde à FioCruz. A partir da consulta a fontes documentais e da realização de 10 entrevistas com representantes de famílias que habitavam o pavilhão, analisamos os processos de ocupação e remoção por indenização deste pavilhão assistencial. A partir de uma analise da história oral, visa compreender as relações desses moradores com esse espaço hospitalar específico para doentes mentais, que também foi constitutivo da vida dos sujeitos entrevistados pela via da moradia e de sua sociabilidade.
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Priscila Rodrigues dos Santos
Memória da Baixada Fluminense: Vida, trabalho e desenvolvimento urbano em testemunhos de anciãos 1950-2000
Este trabalho tem como objetivo discutir as transformações que ocorreram na Baixada Fluminense, na segunda metade do século XX, levando em conta os desenvolvimentos das freguesias de Nossa Senhora do Pilar, São Jõao de Meriti,Nossa Senhora de Marapicu, Santo Antonio da Jacutinga e Nossa Senhora da Piedade de Iguassu.
Na época as freguesias mencionadas tinham um comércio local movimentado em função de seus rios e afluentes que ao longo do tempo perderam sua hegemonia com a construção de rodovias e ferrovias.Muitos desses rios foram aterrados e outros viraram brejos prejudicando a dinâmica socioeconomica, atingindo plantações como o de laranjais e proporcionando a desvalorização imobiliária.
O principio desse estudo é relacionar a formação da identidade e da memória dos seus moradores da terceira idade com as alterações das condições sociais, os conflitos por terra, a crise econômica da citricultura e a imagem violenta associada à Baixada Fluminense.
A investigação analisará os impactos ambientais, culturais e os fluxos migratórios provocados pela expansão desordenada urbana das antigas freguesias, avaliando as medidas governamentais ou ausência delas no processo de formação da cidade iguassuana.
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Claudia Peçanha da Trindade
Memória e conflitos sociais no espaço urbano – Manguinhos/ Rio de Janeiro
Este trabalho visa debater as primeiras análises de um projeto de pesquisa que busca traçar um diagnóstico histórico-urbano-sanitário sobre a região de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Como recorte, para este texto, trabalhamos com a movimentação dos atores sociais, sejam eles individuais ou coletivos, públicos ou privados, leigos ou especializados, frente aos múltiplos desafios de ordem cultural e política presentes no processo de planejamento, negociação e execução de uma política pública. No caso, estamos nos referindo ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), proposto pelo governo federal, que prevê uma grande intervenção urbanística na região de Manguinhos. Registrar e analisar sistematicamente o processo de negociação da implantação de uma política pública de urbanização implica em não perder de vista o processo histórico e a memória da constituição dos espaços naquela região, e Ilumina os conflitos sociais postos, historicamente, na constituição dos espaços urbanos, onde as disputas se dão privilegiadamente entre agentes públicos, privados e movimentos sociais de luta comunitária. Atentar para os diferentes projetos sociais colocados em debate por cada grupo, e ainda identificar a composição de cada um deles, fazem parte do escopo desta pesquisa.
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Marcus Paulo Silva dos Reis
A favela deve ser removida: uma análise do pensamento remocionista no Rio de Janeiro no século XX.
O presente trabalho propões uma discussão acerca do pensamento remocionista no século XX. Desde a sua gênese, no final do século XIX, a favela é vista como o território da criminalidade, seja sob a aura da malandragem, na primeira metade do século passado, ou sob a atual questão do tráfico de drogas. Nesse sentido, o pensamento remocionista surgiu sob o lema da higienização social e foi posto em prática no Brasil sobretudo em períodos ditatoriais. Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, foi o pioneiro com a idealização e criação dos Parques Proletários, já durante o período ditatorial pós-64, as remoções foram recorrentes na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, denotando assim a influência do mercado imobiliário no processo em questão. A reflexão proposta no trabalho é um recorte da dissertação de mestrado em andamento no Programa de Pós Graduação em Memória Social da UNIRIO. A pesquisa objetiva discutir as múltiplas memórias de ex-moradores favela da Praia do Pinto, removida em 1969, situada no Leblon, bairro nobre da Cidade do Rio de Janeiro, por meio de entrevistas-depoimento focadas na história de vida dos removidos. O objetivo principal da comunicação é fazer uma análise da política remocionista em toda a sua amplitude.
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ELADIR FÁTIMA NASCIMENTO DOS SANTOS
Eles eram do Morro do São Carlos, agora eles são do CV ou então do TC - uma discussão sobre identidade
Esta comunicação é parte da dissertação de mestrado em andamento no PPGMS-UNIRIO. Sua temática geral é a caracterização e análise das memórias construídas sobre a atuação da FAFERJ (Federação de Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro). Neste recorte estudamos os relatos de antigos diretores da FAFERJ sobre o Morro de São Carlos como espaço de refúgio de resistentes da ditadura militar, no final dos anos 1960 e início dos 1970, período de endurecimento do regime, prática de perseguições, torturas e extermínios. Propomos uma reflexão sobre as alterações nas paisagens históricas que fragmentaram o Morro de São Carlos e outras favelas da cidade, deslocando as categorias de pertencimento dos seus moradores. Se naquele momento os jovens e adultos do local se identificavam como moradores de um território de resistência, militância e luta por uma sociedade mais justa, a partir da despolitização das relações sociais e da aceleração do processo de segmentação e apartação de grupos sociais no espaço urbano, com reflexos mais notórios a partir dos anos de 1990, o Morro do São Carlos torna-se um território da cidade como tantas outras favelas, em que os jovens se identificam como moradores de áreas comandadas por determinadas facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas.
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Pedro Bogossian Porto
Construção de identidades coletivas em favelas do Rio de Janeiro
A questão das identidades está em evidência atualmente, fato que tem provocado o surgimento de uma grande quantidade de iniciativas que operam com as memórias coletivas. Na cidade do Rio de Janeiro isso é especialmente evidenciado pela multiplicação de projetos voltados para o resgate e a construção da memória das favelas, que têm se tornado cada vez mais objeto de disputa de entidades que se afirmam como porta-vozes dessa população; trabalhadores, imigrantes, artistas, resistentes compõem parte do mosaico identitário que se tenta articular dentro de um grupo coerente, ou seja, como membros de uma mesma coletividade, de uma mesma favela.
Sendo assim, Estado, organizações não-governamentais, associações de moradores, entre outros, vêm investindo maciçamente na afirmação de uma memória coletiva e homogênea. Aqui discutiremos algumas dessas iniciativas, na tentativa de compreender suas motivações e perceber as estratégias utilizadas para chegar a seus objetivos. Os resultados, esperados ou não, do trabalho posto em prática por essas entidades também serão observados, de modo a ilustrar os significados e as re-significações proporcionadas por esse trabalho.
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06/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 16h)
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Luís Edmundo de Souza Moraes
O negacionismo e as disputas de memória: intelectuais de extrema-direita e a invenção de um passado sem o Holocausto
Este trabalho volta-se para a forma como o holocausto é tematizado pelo negacionismo. Trata-se de uma variante, digamos, intelectual de movimentos de extrema-direita do pós-1945 que busca, por meio de uma literatura com aparência de historiografia, negar o fato de que o holocausto tenha existido.
A literatura negacionista, buscando superar o peso social e político negativo dos crimes nazistas, ocupa um lugar de importância capital no processo de legitimação social da extrema direita e do neo-nazismo. O objetivo deste trabalho é o de verificar de que formas e por que instrumentos os negacionistas produzem narrativas falsas sobre um tempo passado que se reivindicam como verdadeiras com a pretensão tanto de oferecer ao mundo um „passado“ adequado a seus projetos políticos específicos como de deslegitimar a historiografia sobre o Nazismo.
A perspectiva que informa este estudo é que, do ponto de vista do negacionismo, está em jogo um processo de disputa pela memória socialmente estabelecida sobre o nazismo e sobre o holocausto. Tomando o caso do negacionismo, buscarei refletir sobre os modos de produção bem como sobre o processo de afirmação social de uma imagem sobre o passado como memória socialmente estabelecida contra imagens concorrentes em um espaço público específico.
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Jayme Lúcio Fernandes Ribeiro
Marujos dizem não! – História e memória dos comunistas brasileiros na campanha contra o envio de soldados brasileiros para a Guerra da Coréia (1950-1953).
Quase quarenta anos sem o reconhecimento legal de sua legenda, permitiram aos comunistas brasileiros uma rica experiência na clandestinidade. Nesse período, inseriram-se em diferentes movimentos sociais a fim de manterem-se ligados à vida política do país. Na década de 1950, um dos objetivos dos comunistas brasileiros era o de impedir a participação do Brasil na Guerra da Coréia ao lado dos Estados Unidos. Nesse ano, os comunistas brasileiros patrocinaram a “Campanha Contra o Envio de Soldados Brasileiros para a Coréia”. Tal campanha consistia em passeatas, enterros simbólicos, coleta de assinaturas, comícios-relâmpagos, manifestações populares etc., objetivando pressionar a opinião pública brasileira e, sobretudo, o governo para que o Brasil não enviasse nenhum membro das forças armadas para participar do conflito coreano. Através da análise dos inúmeros documentos partidários e, sobretudo, da memória dos militantes que participaram do movimento é possível perceber o processo de reconstrução da memória acerca do ideário pacifista e, ainda, verificar a tentativa de criar um laço identitário entre os comunistas e os pacifistas, apresentando os primeiros como seus legítimos e únicos defensores.
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Daniela Ferreira Felix
"O que os olhos não deveriam ver..." O movimento negacionista e os campos de concentração
O movimento negacionista busca, através de “fontes” e “pesquisas”, convencer de que a história do Holocausto é uma farsa construída pelos vencedores da guerra financiados pelo judaísmo internacional. Os negacionistas tentam recriar a história numa clara disputa pela memória. Apagar da mente das pessoas o que conhecem sobre tal fenômeno e dizer que não passa de uma farsa é uma forma que encontram para construir uma nova memória coletiva. O presente trabalho, que vincula-se ao projeto do Prof. Dr. Luis Edmundo de Souza Moraes, toma como objeto de discussão um importante instrumento utilizado pelos negacionistas a fim de legitimar a afirmativa da não-existência do Holocausto e das câmaras de gás na História: o Relatório Leuchter. Justificado como produto de uma inspeção pelos campos de extermínio de Auschwitz, Birkenau e Majdanek, o relatório é utilizado pelos negacionistas como instrumento de destruição do que chamam de “mito histórico”. O Relatório apresentaria análises e resultados científicos que “comprovariam” o não-genocídio de judeus pelas câmaras de gás, já que não teria sido encontrado o gás hidrocianureto nas rochas e solos dos campos. Nesse sentido, a maneira que os campos de concentração são tematizados pelos negacionistas insere-se, ainda, em nossa análise.
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Michelle Reis de Macedo
Luta por dignidade: a campanha do marmiteiro na democratização de 1945
No contexto de transição democrática em 1945, o destino da política nacional parecia já estar traçado. Getúlio Vargas fora deposto e o movimento queremista, desmobilizado. Enquanto a campanha do ex-ministro da Guerra do Estado Novo, Eurico Dutra, ocupava apenas pequenas notas nos jornais, o candidato udenista Eduardo Gomes possuía o respaldo da grande imprensa e sua eleição à presidência da República parecia certa. Faltavam poucos dias para as eleições de 2 de dezembro e somente um acontecimento político capaz de causar forte impacto na opinião pública poderia inverter o resultado do pleito e tirar da UDN a vitória. A campanha do marmiteiro lançada pelo queremista Hugo Borghi assumiu essa função. Acusando o brigadeiro de desdenhar o voto dos “marmiteiros”, Borghi acendeu o ânimo popular e, ao mesmo tempo, estimulou uma imagem extremamente negativa do candidato da UDN, considerando-o defensor dos “grã-finos”. Na luta simbólica entre “marmiteiros” e “grã-finos”, trabalhadores e populares identificaram-se com o primeiro grupo, em oposição ao segundo. O símbolo da “marmita”, portanto, abalou significativamente a campanha do brigadeiro, dando aos fatos políticos um rumo diferente daquele previsto.
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Maria da Conceição Vilela Franco
A morte conta a vida: os cemitérios como lugar de memória na antiga Macaé, entre 1855 e 1910
A presente comunicação busca analisar de que modo os cemitérios, as sepulturas e demais elementos que os compõem se firmaram como instrumento de reforço do “imaginário” local e de construção dos chamados “lugares de memória” em Macaé, no período compreendido entre 1855 a 1910. A partir do caso da morte e do sepultamento de Manoel da Motta Coqueiro (1855) e da identificação de duas sepulturas localizadas em Macaé, em 1910, pertencentes à Argeo Victor Hugo Brazil e Honório Souza, pretendo compreender os cemitérios como “lugar” de negação e/ou de afirmação de uma dada memória na sociedade macaense, ao longo do período analisado.
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07/08 - Quinta-feira - Manhã (10h às 12h)
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Diana Sobreira Barros
A reconstrução do movimento estudantil no processo de redemocratização brasileira (1974 – 1985): A problemática dos lugares.
Nesse projeto proponho analisar as relações entre o episódio da derrubada do “Prédio da UNE”, na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro em junho de 1980 e a reconstrução política da UNE, em outubro desse mesmo ano, num Congresso estudantil na Bahia. Pretendendo enfocar exatamente o paradoxo destes dois episódios: destruição física do prédio que simboliza a memória da UNE no momento em que os estudantes restauraram politicamente sua entidade.
Trabalho principalmente com fontes do Jornal O Globo e o Jornal do Brasil, da época; e depoimentos de estudantes que vivenciaram tanto a resistência a Ditadura Militar quanto a derrubada do Prédio.
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Icleia Thiesen, Marco Aurelio Santana
Do exame à identificação ou do panóptico ao banóptico
A produção de informações sobre os indivíduos é uma estratégia de controle social que se desenvolve no contexto dos processos de industrialização, com o objetivo de reforçar o poder do Estado. Uma nova anatomia do poder é estabelecida através de tecnologias de vigilância, um conjunto de procedimentos minúsculos para esquadrinhar, controlar e medir os indivíduos. Técnicas de observação, exame e identificação surgem e se aperfeiçoam desde o século XIX. Registrar, descrever, contar, classificar e documentar tornam-se atividades sistemáticas que darão origem a diversos saberes, mas também a técnicas de identificação, cujo propósito é separar, discriminar, excluir o outro para evidenciar sua identidade deteriorada. O presente trabalho discutirá o movimento efetuado entre o panóptico e o banóptico, indicando o fraco equilíbrio entre o respeito à liberdade e os assim alegados imperativos de segurança social.
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Marize Bastos da Cunha
Uma colcha de retalhos, nos traçados de vida e trabalho: o processo de constituição de agentes comunitárias em favelas do Rio de Janeiro
O trabalho resulta de experiências de pesquisa, baseadas em procedimentos de histórias de vida e grupos focais, realizadas junto a moradoras de favelas do Rio de Janeiro, agentes comunitárias nestas localidades. Examina o processo de constituição destas mulheres como trabalhadoras do social, considerando três dimensões: suas experiências no espaço da favela; nas lutas sociais travadas por estas localidades no território da cidade; e no desenvolvimento da “fronteira”, terreno do trabalho social nas favelas, concebido como um espaço histórico-social, constituído por relações desiguais entre diferentes agentes sociais.
São as narrativas das mulheres que nos permitem recuperar os processos identitários que marcam sua constituição como trabalhadoras sociais, contribuindo para ampliar a análise do seu lugar histórico e social.
A reflexão enfoca ainda o lugar da memória como elemento mediador, que alimenta o trabalho destas mulheres, constituindo-se em um dos caminhos que lhes permite resgatar sua experiência de trabalho, buscando ultrapassar os limites com os quais se defrontam. Limites que dizem que não podem ser mais do que “agentes” a serviço de alguma instituição. Que as separam. Ou que buscam apagar os registros de suas experiências passadas.
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Paulo Gracino de Souza Júnior
Minas são muitas, mas convém não exagerar”: memória, mineiridade e culturas políticas
Este estudo pretende compreender de que forma a incorporação de traços da cultura mineira aos novos circuitos turístico-comerciais vem contribuindo para o fortalecimento da identidade mineira – “mineiridade” – nos dias que correm. Mais especificamente, pretendemos avaliar como nas últimas décadas a “mineiridade” vem sendo reevocada e ressignificada, utilizada tanto como “produto cultural” – atraindo turistas ávidos pelos resquícios pitorescos de tradição – quanto como recurso simbólico de poder – trazida para arena política, encena as valorosas qualidades dos políticos mineiros. Neste último sentido, a mineiridade é apresentada enquanto um estado moderno que soube preservar suas tradições, um modelo a ser seguido pelo Brasil. Como no slogan da propaganda: “um lugar onde o tradicional encontra o moderno”. Tomaremos como ponto de partida de nossas análises as construções do que é “ser mineiro” – forjadas ainda na década de 1940 por Alceu Amoroso Lima, em seu A voz de Minas –, bem como seu desenrolar histórico marcado por apropriações, invenções, reinvenções e esquecimentos, dando especial atenção à atual política de memória empreendida pelo governo do estado de Minas Gerais na última década.
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Daniel Henrique Diniz Barbosa
“Minas são muitas, mas convém não exagerar”: memória, mineiridade e culturas políticas
Este estudo pretende compreender de que forma a incorporação de traços da cultura mineira aos novos circuitos turístico-comerciais vem contribuindo para o fortalecimento da identidade mineira – “mineiridade” – nos dias que correm. Mais especificamente, pretendemos avaliar como nas últimas décadas a “mineiridade” vem sendo reevocada e ressignificada, utilizada tanto como “produto cultural” – atraindo turistas ávidos pelos resquícios pitorescos de tradição – quanto como recurso simbólico de poder – trazida para arena política, encena as valorosas qualidades dos políticos mineiros. Neste último sentido, a mineiridade é apresentada enquanto um estado moderno que soube preservar suas tradições, um modelo a ser seguido pelo Brasil. Como no slogan da propaganda: “um lugar onde o tradicional encontra o moderno”. Tomaremos como ponto de partida de nossas análises as construções do que é “ser mineiro” – forjadas ainda na década de 1940 por Alceu Amoroso Lima, em seu A voz de Minas –, bem como seu desenrolar histórico marcado por apropriações, invenções, reinvenções e esquecimentos, dando especial atenção à atual política de memória empreendida pelo governo do estado de Minas Gerais na última década.
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Frederico Sidney Guimaraes
O dilema da identidade profissional na memória do incentivo da auto-estima das prostitutas no Rio de Janeiro
Este trabalho objetiva analisar o conflito de identidade na memória do movimento das prostitutas no Rio de Janeiro. Durante a construção das ações em defesa da auto-estima e cidadania, as prostitutas organizadas politicamente demonstram diversas formas de identificação com a questão da profissão. Por um lado, temos o conflito entre a escolha se a profissão em si, pelas próprias prostitutas, deva ser assumida e registrada ou camuflada. Por outro lado, dentro do próprio movimento, há uma variedade de posicionamentos quanto às noções pejorativas desse tipo de trabalho, principalmente aqueles referentes às posturas e papel social da prostituição. Deve o movimento buscar pela seriedade profissional e pela integridade comportamental e moral, ou é necessário respeitar sua vinculação com a livre escolha comportamental e lúdica das atividades sexuais? Para desenvolvermos esse trabalho, nos utilizamos da metodologia da História Oral através da coleta de entrevista das lideranças políticas e das prostitutas que concentram suas atividades nas ONGs Davida e Fio da Alma. Também temos a oportunidade de analisar documentos disponibilizados no Centro de Memória da ONG Davida.
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Regina Coelly Fernandes Saraiva
Saberes e fazeres tradicionais nas vozes de mulheres da Chapada dos Veadeiros - GO
Saberes e fazeres tradicionais do cerrado são desvendados por moradoras da Chapada dos Veadeiros - GO, por meio de narrativas que revelam o encontro entre natureza e cultura. A partir da perspectiva benjaminiana de memória, as vozes silenciadas dessas moradoras - ex-garimpeiras, parteiras e benzendeiras - foram ouvidas, permitindo a construção de outros olhares sobre aqueles saberes: a riqueza da biodiversidade da região; os múltiplos usos de plantas, raízes e flores; os "remédios do mato" que curam; práticas "mágicas" que revelam o olhar da cultura popular da região. Os registros de memórias de mulheres como Dona Maria Chefe, Maria Barbosa e Dona Flor foram realizados tendo como pressuposto teórico-metodológico a história oral. A narrativa construída por cada uma revela os vestígios de uma tradição marcada por tempos distintos, mas que tem elementos em comum. Essas moradoras, ao se depararem com a possibilidade de extinção desses saberes e fazeres, revelam estratégias que traduzem a afirmação de suas identidades.
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