Primeira República: história, política e cultura |
Coordenadores: Angela Maria de Castro Gomes e Martha Abreu
Martha Campos Abreu
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Resumo: A Primeira República e, em especial, as décadas iniciais do novo regime, vêm ganhando crescente interesse e espaço na produção historiográfica brasileira. Dessa forma, muitos são os historiadores, especialmente os que se dedicam à história política e cultural, que têm retomado o período numa chave distinta daquela que o consagrou como a República “Velha”. Uma fórmula que certamente merece reflexões, a começar pela constatação de que, não casualmente, foi imaginada e propagada pelos ideólogos autoritários das décadas de 1920 a 1940, sendo divulgada e “adotada” com ênfase, durante os anos do Estado Novo. A chamada República “Velha”, entretanto, foi um “tempo” de intensa busca pela modernidade, que não era singular, mas plural, pois diferentes eram os entendimentos do que era ser moderno. A existência de um protagonismo dos intelectuais brasileiros nessas primeiras décadas do século XX, elegendo o tema da identidade nacional como objeto a ser construído - desvendado e proposto – é cada vez mais evidente com a multiplicação de estudos sobre a Primeira República. Este simpósio, portanto, dando continuidade a um porjeto iniciado no Encontro Regional da ANPUH, em 2006, propõe-se a discutir o período, invertendo, de certa forma, essa postulação muito consolodida na historiografia brasileira, pois passa a considerar a Primeira República como um momento estratégico para se pensar a questão das relações entre política e cultura no Brasil. Ele pretende ser um estímulo e um espaço para debates de pesquisas que procurem se aprofundar sobre o período.
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Programação: |
04/08 - Segunda-feira - Tarde (14h às 16h)
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Nelson Ricardo Mendes Lopes
Coronelismo e Chaguismo na Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro
Este trabalho pretende analisar o conceito de clientelismo e, comparativamente, associar as práticas ciientelistas do período da Primeira República com o período do chaguismo tendo como pano de fundo o campo político da Zona Oeste do Rio de Janeiro, mais especificamente, o bairro de Campo Grande e o sub-bairro do Mendanha. Será explicitado a concorrência das forças políticas internas e sua organização, o que implicará nas mais diversas estratégias para a sobrevivência dos grupos que atuaram nesta região. O Grupo Triângulo e a "máquina chaguista", em diferentes épocas, usaram das técnicas clientelistas para cativar grande número de eleitores e fazer valer o funcionamento dos princípios da reciprocidade e lealdade que alicerçaram o jogo político em suas diferentes épocas.
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Luciana da Silva Santos
Eleições, Carnes e Domínio Político: um Triângulo bem articulado na Área Rural do Distrito Federal (virada do século XIX para o XX).
O trabalho analisa a articulação política de grupos locais na Capital Federal da recém implantada República brasileira, que garantia domínio político pelas eleições e pelo controle no abastecimento de carne na cidade.
O Terceiro Distrito Eleitoral da cidade era dominado por um grupo político que tinha grande influência desde o Império e que se consolidou nos anos iniciais da República. Conhecido como Triângulo, alcunha dada pela Imprensa ao grupo político, era composto por três lideranças, a saber: Augusto de Vasconcelos (Campo Grande), Felipe Cardoso (Santa Cruz) e Raul Barroso (Guaratiba). O grupo tinha presença garantida no Conselho Municipal e na Câmara dos Deputados, por meio de práticas eleitoreiras consideradas suspeitas e questionáveis, se olhadas pelo prisma dos jornais da época.
O que contribuía ainda mais para a consolidação das bases políticas locais do Triângulo era o abastecimento de carne fresca na cidade do Rio de Janeiro, que envolvia diretamente o Matadouro de Santa Cruz, a mais importante instituição municipal localizada na Zona Rural Carioca. Administrar o Matadouro era a garantia de poder econômico para o grupo e, principalmente, de obtenção de influência política local. Abastecê-lo dependia muito mais de negociações políticas do que habilidades comerciais.
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Daniel José Eduardo
Ernani Gomes de Oliveira: um falsário a "serviço" da cidadania
Acusado de ser responsável por dezenas de falsificações de documentos para qualificação eleitoral, Ernani Gomes de Oliveira e Silva freqüentou inúmeras vezes as Delegacias da cidade do Rio de Janeiro, prestando declarações para inquéritos policiais abertos a pedido de Procuradores da República. Destes resultaram os processos-crime aqui analisados e encontrados no Arquivo da Justiça Federal. O trabalho presente busca, ao “olhar por cima dos ombros das autoridades policiais”, perceber as visões e práticas dos envolvidos nas fraudes eleitorais, durante o processo de alistamento, a partir das declarações prestadas por todos os envolvidos e das leis eleitorais nos primeiros anos da República. Procura captar indícios que permitam a reconstituição da mentalidade e do cotidiano destas pessoas envolvidas em fraudes e sua relação com a construção da cidadania. Teriam elas conhecimento das normas que regiam o processo eleitoral? Como esta população agia frente o processo de alistamento? Tinham consciência de seus direitos políticos? A Justiça não culpava esses agentes por falta de provas, contudo se percebe que eles, tanto integrantes das elites quanto a população, não estavam preparadas para a democracia e as fraudes eleitorais contribuíam para que o aprendizado dela demorasse.
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Marcelo de Souza Magalhães
O Rio Capital: tensões entre poderes centrais e locais (1889-1902)
A cidade do Rio, por ter sido sede do Vice-Reinado do Brasil (1763), Corte do Império Português (1808), Corte do Império do Brasil (1822) e Capital Federal (1889), constituiu em torno de si um atrativo simbólico muito forte. Foram anos de investimento para construir diferentes formas de centralidade. Tal centralidade volta e meia se faz presente, como no caso das comemorações do bicentenário da chegada da família real portuguesa (1808-2008). O prefeito Cesar Maia define a cidade como a “Corte nos Trópicos”.
O fato de ter sido a principal cidade brasileira até o início do século XX é um dado importante na construção da identidade política carioca. A identificação da cidade como vitrine da nação foi um ponto de tensão entre os poderes centrais e locais. A questão nacional eclipsou a história dos poderes locais e dos grupos políticos que o ocuparam. Uma certa historiografia corrobora a manutenção do eclipse, construindo uma interpretação que dissocia os poderes locais dos interesses dos habitantes da cidade. A comunicação busca perceber, por meio das modificações na organização política da cidade, as batalhas em torno dos significados sobre a capital, defendendo que, ao invés de dissociados, os poderes locais estavam enraizados na cidade.
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05/08 - Terça-feira - Manhã (10h às 12h)
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Gisele Sanglard
Assistência entre o liberalismo e o bem-estar social
Este trabalho tem como objeto de análise documentos produzidos por médicos e filantropos no ano de 1922 que marcam, de um lado, o último sopro em defesa de uma assistência liberal, através da publicação A Assistência Pública e Privada no Rio de Janeiro organizada por Ataulfo de Paiva; e das discussões do Congresso Nacional de Práticos, onde médicos e políticos defendem seus projetos, agora clamando para a participação na criação e gestão da rede de hospitais públicos na cidade. A análise se concentrará nas idéias e propostas a respeito da constituição da rede hospitalar na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, presentes no debate que perdurou ao longo de toda a Primeira República, envolvendo médicos, higienistas e filantropos. Através dos modelos de assistência propostos por cada uma das personagens envolvidas, pretendo apontar para a implicação de cada um dos projetos em jogo e os limites impostos pela época à aplicação destas idéias. Período de transição, a fala destes homens deixa transparecer toda a incerteza que marca a década de 1920, ao mesmo tempo e que aponta para a atualidade do debate produzido acerca da questão da Assistência.
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Renato Pereira da Silva
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro: entre o liberalismo e o estado de bem-estar social
Este trabalho tem como objetivo estudar a organização da assistência médica na cidade do Rio de Janeiro, na década de 1920 a partir do projeto do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Este Hospital foi projetado para resolver, pelo menos, dois problemas da capital: a falta de leitos hospitalares e a ausência de um hospital próprio para a Faculdade de Medicina. Tendo como fonte os discursos dos médicos me proponho a pensar este projeto ao mesmo tempo como reflexo da crise do liberalismo e o primeiro ensaio de uma assistência de bem-estar social.
A década de 1920 se desponta, assim, como um período de questionamento e de transformação na questão da Assistência Hospitalar. Este projeto contribuirá para o melhor conhecimento da assistência médico-hospitalar no Rio de Janeiro, em seus múltiplos aspectos: expansão da rede de atendimento e de ensino médico; e das divergências internas na Faculdade que influenciaram na construção do Hospital. O que estava em jogo nesse momento é a transição de paradigmas do ensino e da assistência médica, assim como o da passagem do estado liberal para o de bem-estar-social, sendo este concretizado após os acontecimentos de 1930, sobretudo a partir de 1937.
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Fernando Luiz Vale Castro
Diplomatas e Intelectuais nas primeiras décadas do século XX
Este trabalho versa sobre a análise de projetos elaborados para o “Continente’ latino-americano por seus intelectuais, principalmente diplomatas, ao longo das duas primeiras décadas do século XX e que serviram de base para os debates subseqüentes, em vários paises, ao longo de todo século passado, em especial no que tange o papel ser exercido pelo Brasil na Ordem Mundial. Outrossim, buscaremos observar como esses diplomatas refletirão acerca do advento da República brasileira em um momento de definição das instituições republicanas logo após a Proclamação de 1889. Nossa fonte privilegiada, mas não única, de analise será a Revista Americana a qual consideramos local de sociabilidade privilegiado para a observação dos projetos dessa intelectualidade, tendo sido uma publicação oriunda das fileiras do Ministério das Relações Exteriores do Brasil caracterizando-se como um espaço de vanguarda para o debate de tais questões.
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Luciene Pereira Carris Cardoso
Estado e território: elementos para a construção de uma nacionalidade
A comunicação pretende apresentar a constribuição da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro nas primeiras décadas da República através de suas iniciativas e projetos, relacionando-os com as demandas da agenda de Estado. Neste caso, demonstrar como o discurso sobre o território foi apropriado pela instituição como um elemento da formação da nacionalidade brasileira, como uma estratégia de manutenção de uma unidade simbólica e física.
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05/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 16h)
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Denilson Botelho de Deus
Livros, leituras e idéias numa biblioteca suburbana
Este trabalho apresenta um breve estudo sobre a “Limana” - modo pelo qual o escritor carioca Lima Barreto (1881-1922) se referia a sua biblioteca particular. Embora a biblioteca não mais exista fisicamente, “sobreviveu” através de um inventário dos 800 livros que a compunham. Como existem inúmeros registros do escritor sobre as suas impressões de leitura, desenvolvemos uma reflexão histórica sobre o “universo mental” do escritor através da sua biblioteca particular. Este tipo de abordagem permite identificar nos livros que o literato possivelmente lia e colecionava um pouco das bases de sustentação de suas idéias políticas e da sua militância na imprensa e nos meios literários da Primeira República.
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Leonardo da Costa Ferreira
Lobato versus Pires: Uma discussão sobre o lugar do caipira no futuro da República
A apresentação, através de alguns textos de Monteiro Lobato e Cornélio Pires, pretende discutir como esses dois intelectuais (re)construíram, ao longo das décadas de 1910 e 1920, a imagem do caipira.
Afinal, discutir o lugar do caipira naquele tempo era tentar compreender o lugar do homem rural ou do campo dentro da nação. Isso era fundamental para uma pais que tinha nas três primeiras décadas do século XX entre 70 e 80% da popualação vivendo no interior.
Além disso, a apresentação não perderá a dimenção de que junto com aquele debate se encontram as seguintes questões: É possível melhorar qualidade de vida do povo? Qual o papel do Estado? Como deveriam atuar os intelectuais?
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Pedro Ernesto Fagundes
O pensamento e as organizações políticas autoritárias da década de 1920.
O cenário político da Primeira República, costumeiramente, é apresentado apenas como um período marcado pelo pacto das elites políticas paulistas e mineiras - os dois estados mais influentes da época - configurando a dinâmica que ficou conhecida como Política do café com leite. Por outro lado, o que gostaríamos de discutir nesse trabalho são as manifestações do chamado pensamento político de caráter autoritário que também existiram durante essas mesmas décadas. As idéias autoritárias atraíram inúmeros adeptos, impulsionou debates e contribuiu de forma significativa para a fundação de variados movimentos e organizações políticas que surgiram, principalmente, durante a década de 1920. Dentre essas organizações podemos citar a Legião Cearense do Trabalho, o Partido Sindicalista Brasileiro, a Legião Cruzeiro do Sul, o Partido Fascista Brasileiro e a Ação Imperial Patrionovista Brasileira. Em seu conjunto, essas organizações misturavam idéias nacionalistas com a influência de teses fascistas vindas da Europa. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho é realizar uma investigação sobre como se organizavam, quem foram seus lideres e as principais atividades desenvolvidas por essas entidades.
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Alexandre Lazzari
Longe do sertão: literatura, política e nacionalismo em Afonso Arinos (1868-1916).
Este estudo é parte de uma pesquisa que busca comparar a atuação de escritores oriundos de diferentes regiões do Brasil que, nas décadas iniciais da República, seguiram uma tendência de relacionar a identidade nacional com a representação de sua terra natal. Procura-se selecionar os autores menos pelo prestígio obtido nas letras nacionais do que pelo efetivo reconhecimento que permitiu certa visibilidade para suas idéias e sua literatura na capital do país em seu próprio tempo. É o caso do mineiro Afonso Arinos de Melo Franco (1868-1916) que, apesar de ter vivido a maior parte de sua vida pública entre Outro Preto, São Paulo e Paris, foi amigo influente de escritores como Olavo Bilac e Coelho Neto, sendo eleito para a Academia Brasileira de Letras e para o IHGB. Posteriormente, foi tomado como referência para os temas do sertão pelos modernistas paulistas. Este trabalho pretende abordar alguns dos sentidos que o autor procurou dar à sua obra literária e engajamento político em vida e confrontá-los com memórias construídas sobre ele por seus admiradores.
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Rosane Maria Nunes Andrade
Manuel Cícero Peregrino da Silva: um homem público na Primeira República
O projeto republicano desdobrou-se num conjunto de medidas que visavam garantir o estabelecimento de uma ordem no país e instituir a marca dos novos tempos no campo social e cultural. Os discursos produzidos e as ações desenvolvidas visavam à construção de um país civilizado e atualizado, integrado à cultura ocidental. Uma das formas de assegurar esses ideais foi a implantação de uma simbologia nacionalista, através da atuação de intelectuais na imprensa e dos exemplos nacionais de homens públicos dedicados ao aprimoramento social e cultural do país. Nesse contexto, o trabalho visa destacar a figura de Manuel Cícero Peregrino da Silva, diretor da Biblioteca Nacional no período de 1900 a 1924, que imprimiu em sua gestão novas técnicas administrativas à Instituição, de acordo com os modelos estrangeiros, valorizando a biblioteca como espaço cultural e educacional e acima de tudo como patrimônio da nação, e estabeleceu relações com os administradores da capital, viabilizando a construção de um novo prédio para a Biblioteca Nacional no espaço remodelado da Avenida Central, atual Rio Branco, em concordância com as reformas urbanas implantadas por Pereira Passos.
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06/08 - Quarta-feira - Manhã (10h às 12h)
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Everton Costa Santos
"Queixas do povo" do Jornal do Brasil: cidadania, imprensa e estado no Rio de Janeiro da Consolidação Republicana (1891-1897).
A nossa proposta nessa comunicação é do estabelecimento de uma série de reflexões acerca da participaçãos dos citadinos da urbe carioca no período entre 1891-1897 nas páginas do Jornal do Brasil.
Sustentamos a idéia de que parte da população, frente às limitações institucionais impostas pelos primeiros governos republicanos, reconheceu na imprensa um grande aliado na sua relação com o excludente Estado republicano.
As nossas reflexões objetivará, fundamentalmente, perceber como os espaços destinados pelo Jornal do Brasil às demandas da população eram acionados, e como tais espaços cumpriam o papel de elos entre os citadinos, a própria imprensa e o poder público, engendrando, assim, uma relação cujo intuito último dos cidadãos era a observância de direitos para o bem viver na cidade, como a oferta de água, saneamento, saúde, segurança, transporte, vizinhança.
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Maria Martha de Luna Freire
As múltiplas faces da mulher moderna: imprensa e construção de identidades femininas na década de 1920.
Este trabalho analisa o processo de construção de identidades femininas em revistas destinadas a mulheres dos principais centros urbanos brasileiros na década de 1920, vinculando−o ao projeto republicano de busca de identidade e constituição da nação pela via da modernidade e da valorização social da ciência. De outro lado, destaca a função mediadora da imprensa periódica – em particular as revistas femininas – na conformação de novos papéis sociais, transformando−se em veículo privilegiado do movimento civilizatório.
As páginas das revistas Vida Doméstica (1920−1963) e Revista Feminina (1914−1936) revelaram – em seu afã de retratar para suas leitoras o que significava “ser mulher” –, as aparentes contradições e ambigüidades que perpassavam os comportamentos femininos no período. Estas se encontravam, entretanto, sintonizadas com as tensões resultantes da permanência de resquícios de uma organização social, política e econômica de base patriarcal em confronto com os novos padrões relacionados à ordem burguesa republicana. Evidenciou−se ainda como, dentre as múltiplas identidades simultaneamente refletidas e forjadas nas revistas femininas, a maternidade foi configurada como o principal papel social das mulheres – e ao mesmo tempo sua própria essênc
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Teresa Vitória Fernandes Alves
O Rio de Janeiro de "O GRAPHICO": visão de uma cidade e de uma época
O desenvolvimento e a expansão da cultura impresa permitem que haja uma maior difusão da cultura letrada, que antes era privilégio de uma minoria. A popularização do ensino, com a criação de escolas, universidades e bibliotecas que estejam voltadas para o povo, deixa de ser apenas uma preocupação do Estado e ganha as ruas através da imprensa operária.
Isso se torna um dado importante para a compreensão das novas relações de poder que emergem dentro da cidade do Rio de Janeiro. O presente trabalho busca reconstruir as importantes redes de relações culturais criadas na cidade e os vínculos que existiram entre os diferentes grupos da população urbana, onde inúmeras visões do cotidiano serviram de base para criar uma conexão entre as diversas camadas sociais, na medida em que cada umaa delas demonstrou ter uma determinada consciência dos problemas pelos quais os homens passaram e a forma para transpô-los.
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Cláudia Míriam Quelhas Paixão
O Rio de Janeiro e o morro do Castelo: populares, estratégias de vida e hierarquias sociais (1904-1922)
Considerando a discussão do desmonte do morro do Castelo na cidade do Rio de Janeiro durante as primeiras décadas do século XX, e a ação por parte das elites em deslocar os populares de determinados espaços urbanos em busca de um ideal próprio de modernidade, meu trabalho analisa as visões elaboradas sobre o morro e seus moradores e o cotidiano desta população durante o processo de arrasamento do morro, ocorrido entre os anos de 1904 e 1922, discutindo as relações e disputas sociais que se refletem nas questões urbanas.
Entendo que diferentes subjetividades sociais formam o fenômeno urbano fazendo deste espaço também uma representação das disputas sociais. Dessa maneira analisei as ações e estratégias dos castelenses, cujos laços de identidade foram tecidos por experiências cotidianas, traçadas no espaço de moradia e na luta diária pela sobrevivência. Com esta apresentação pretendo iniciar uma reflexão acerca das estratégias de resistências praticadas pelos grupos sociais deslocados durante as reformas urbanas realizadas no Rio de Janeiro durante a Primeira República, a partir da analise de fontes de variadas procedências como textos literários, iconografia, ocorrências policiais e depoimentos orais.
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06/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 16h)
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Valéria Salgueiro
A República entre deuses e anjos – cultura visual e a jovem nação republicana
A década de 1920 é significativa para a construção da cultura republicana brasileira. Nesse momento são erguidos e reformados diversos prédios públicos na capital federal, seja para o objetivo de comemorações (centenário da Independência, Exposição de 1922), seja para abrigar os serviços públicos que se ampliavam. As linguagens da arquitetura e das decorações empregadas nessas construções muitas vezes punham-se em franca contradição com os próprios princípios que presidiram a Proclamação e os valores que a República prezava (ou dizia prezar). No Palácio Pedro Ernesto (atual Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro), erguido para abrigar o Conselho Municipal, destaca-se, nesse sentido, a clarabóia – um vitral de grandes proporções no teto do Salão Plenário. Seu tema é a celebração da República, mas a forma de expressá-la remete à linguagem das pinturas de teto de igrejas da Itália da Contra-Reforma. Focalizando o exemplo desse vitral, o trabalho examina aspectos contraditórios dessa absorção de modelos barrocos europeus da cultura visual da Primeira República, especialmente informado pelas idéias desenvolvidas de Roberto Schwarz e Antônio Cândido no campo da literatura sobre esse estranhamento.
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Luciana Pessanha Fagundes
Banimentos, visitas e comemorações: memórias da realeza na Primeira República (1889-1925).
A presente comunicação tem como objetivo analisar o diálogo da Primeira República brasileira com seu passado monárquico através de eventos específicos, como as discussões no Congresso Nacional sobre a revogação do banimento da família imperial, as visitas de membros da realeza portuguesa e belga ao Brasil, o translado dos despojos imperais para o Brasil em 1921 e as comemorações do centenário do nascimento de D.Pedro II. O estudo em conjunto de tais eventos possibilita se pensar movimentos de construção e desconstrução que permeiam as memórias relativas à figura de D.Pedro II e ao Império brasileiro. Ressaltando, desta forma, que a posterior inauguração de um mausoléu e de um museu dedicados à comemoração do passado monárquico brasileiro não remetem apenas às alterações na política cultural do governo identificadas no Estado Novo, mas englobam também uma série de conflitos de identidade perceptíveis em momentos chave da Primeira República.
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Daniella de Almeida Moura
Entre datas, ruas e comemorações: A formação do poder simbólico da República paraense
A proposta deste artigo é discutir a formação do poder simbólico da República Paraense nos seus primeiros anos (1890-1911), observando eventos como a mudança dos nomes de algumas ruas em homenagem ao novo regime, assim como a formulação do calendário republicano, com destaque para os festejos republicanos de 15 e 16 de novembro, datas da Proclamação da República e sua Aclamação no Pará, com o objetivo de analisar seus significados, organização e, principalmente, o entendimento da idéia de fortalecer as práticas do novo governo perante a sociedade. Essa temática apresentou-se como possibilidade a ser trabalhada, uma vez que partindo de outro enfoque, serão discutidas as idéias, os personagens, os discursos, as intrigas e as alianças que estiveram presentes nesse período político marcante da história regional e nacional a partir dessas comemorações.
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Antonio Evaldo Almeida Barros
ENTRE TROVAS E CAPOEIRAS DE BUMBAS: Festa, violência e política no Maranhão (1910-40)
Nos anos 1910-40, grupos de bumba-meu-boi transformavam a ilha de São Luís nos festejos juninos. Essas organizações festivas poderiam ser vistas como elementos e ocasiões para se notar recriações, permanências e mudanças sociais, e se perceber múltiplos (ab)usos da República “Velha”. Os bois eram definidos a partir da ideologização da mestiçagem e da brasilidade harmônico-festiva, ao mesmo tempo em que se tentava “pacificá-los”, o que poderia ser visto no ocultamento da capoeira e valorização da trova. Se até a década de 20, os amos (cantadores de bois) seriam bons na trova e na capoeira, nos anos 30-40, os envolvidos em conflitos corporais dificilmente seriam identificados como bons representantes dos bumbas. De 30 a 40, mesmo havendo registros de encontros violentos entre essas organizações, a violência era rememorada como elemento próprio da República “Velha”. Na atualidade, muitos que se tornaram amos nos anos 40-50 lembram que venceram uma suposta época de violência, anulando os confrontos entre os bumbas. Houve ainda um movimento através do qual as toadas com conteúdo dito “político” ou “moderno” foram criticadas e ridicularizadas. Essas são histórias marcadas por obliterações de diferenças e desigualdades, apropriações e ressignificações, inclusive da violência e da festa.
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07/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h)
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José Cláudio Sooma Silva
O Teatro da Modernidade Carioca: representações de Cidade e Escola Primária nos anos 1920
O presente trabalho tem como foco de análise as imagens urbanas e o Ensino Primário da cidade do Rio de Janeiro e se debruça, principalmente, sobre as categorias históricas de culturas escolares e culturas urbanas; tempos sociais e tempos escolares com o objetivo, por um lado, de perscrutar as alterações que o ambiente urbano carioca ajudou a promover nos debates educacionais ao longo da década de 1920. E, por outro, de discutir as maneiras como a Diretoria Geral de Instrução Pública – durante as gestões de Antônio Carneiro Leão (1922-1926) e de Fernando de Azevedo (1927-1930) – apropriou-se das necessidades, possibilidades e exigências sociais para retorná-las modificadas à sociedade. Deste modo, a partir da pesquisa em periódicos (jornais e revistas), impressos educacionais, legislação da Educação Primária e dos Projetos de Remodelação do desenho arquitetônico, são problematizadas as diferentes representações de escola primária e de cidade que foram construídas em função do entrelaçamento dos ambientes urbanos com os escolares durante o período.
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Ilzani Valeira dos Santos
Saberes e Programas Curriculares nos Grupos Escolares: Uma Proposta de Ordem e Civilização.
A escola graduada, ao final do século XIX, em países da Europa e Estados Unidos, foi considerada o modelo inovador de ensino. No Brasil, os chamados Grupos Escolares, além de símbolo do rompimento com o Império, foram introduzidos como prova de modernização do ensino, pois classificavam os alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos quase sempre homogêneos e em classes de ensino simultâneo, com uma racionalização curricular que se propunha controlar e distribuir os conteúdos dentro de um tempo estipulado. Este estudo pretende trazer subsídios para que se possam aquilatar as inovações curriculares e os saberes escolares no contexto de grupos escolares cariocas (1896-1906), assim como suas abrangências e limites no momento rico em disputas por projetos republicanos de educação.
Palavras-chave: Grupos escolares – Currículo - Civilização - Projetos Republicanos - Modernização do ensino
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ROSANE DOS SANTOS TORRES
Projetos para a Instrução: política e educação na Capital Federal na passagem para o século XX
O presente trabalho consiste em apresentar parte das pesquisas que estamos desenvolvendo sobre a instrução pública na Capital Federal nos anos iniciais da Primeira República no Brasil. Buscamos, nesse estudo, nos aproximar de algumas das especificidades dos projetos republicanos na produção de uma memória da educação escolar, em particular aquela presente na década de 1890. Prática que se desdobrou em um conjunto de projetos, leis e decretos, os quais almejavam instituir a marca dos novos tempos que eram vividos. Do conjunto de estratégias de que seus defensores lançaram mão, destacamos pelo menos duas com as quais pretendemos dialogar: a proposta lançada pela Revista Pedagógica, uma publicação oficial do Pedagogium, criado por Benjamin Constant, em 1890; e os projetos de lei apresentados pelos intendentes do Conselho Municipal, os quais pretendiam intervir de modo mais incisivo no ensino da municipalidade. A partir de um olhar atento em relação ao contexto histórico no qual estas medidas estavam inseridas, é que desejamos empreender algumas reflexões acerca das perspectivas republicanas em defender um modelo de ensino comprometido com a imagem de uma nação moderna e civilizada.
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Alexandre Miranda de Almeida
Rui Barbosa e a fundaçâo da língua nacional.
Nesta comunicacao pretendemos delinear o papel particular de Rui Barbosa como um dois personagens que possibilitaram a legitimação de um padrão ortográfico que definiu a língua portuguesa no Brasil. Num esforço para definir os discursos dos literatos como definidores de uma nação, eles construíram, com seus discursos nacionalistas, nas reformas ortográficas da língua nacional e, dessa forma, legitimaram um padrão ortográfico que definiu a língua portuguesa como nacional.
Os personagens envolvidos na definição da nacionalidade também se encontravam em uma busca por auto-definir-se no mundo literário. Podemos batizar esse processo de “nacionalização” de tradições literárias e de um patrimônio lingüístico cultural, que até então a razão nacional não encontrava morada para dar um sentido nacionalista, no imaginário social.
Portanto, a ortografia se torna elemento importante por definir o que era nacional, buscando instaurar um padrão cultural socialmente legitimado nos complicados mecanismos de distinção social e em um ambiente de disputas simbólicas
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Alessandra Frota Martinez de Schueler
“Escolas de verdade” para a República do Brazil: os grupos escolares na capital federal
O trabalho apresenta uma reflexão sobre a educação escolar na constituição do regime republicano, enfocando a introdução dos grupos escolares, especialmente na capital federal. A partir das décadas finais do século XIX, em países da Europa e nas Américas, a escola graduada foi considerada o modelo escolar mais adequado para a universalização da educação primária. Os pressupostos principais dessa modalidade de escola compreendiam: classificação/agrupamento dos alunos em classes divididas pelo nível de conhecimento/idade; ensino simultâneo; racionalização curricular (conteúdos, tempos e espaços); divisão do trabalho docente (funções de direção, docentes e pedagógicas); transformação da arquitetura escolar e construção de prédios especificamente destinados à escola primária, em contraposição às casas de escola, então representadas como signos do “atraso” e da “tradição” imperiais (pardieiros, pocilgas, escolas tico-tico). Símbolos do progresso e da modernidade pedagógica, os grupos escolares contribuíram para a consolidação de uma memória educacional, vitoriosa na associação entre a idéia de República e a inauguração de “escolas de verdade”, da forma escolar moderna no Brasil.
Palavras-chave: grupos escolares – memória republicana – história da educação
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