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Simpósios Temáticos


Ciências, Tecnologia e Saúde em perspectiva histórica

Coordenadores:
Luiz Antonio da Silva Teixeira
Marta de Almeida
Dominichi Miranda de Sá

Resumo:
Considerando a importância dos temas de pesquisa vinculados às ciências e à saúde como reveladores, formadores e constituintes da história social, política, econômica, cultural e intelectual, este simpósio pretende estimular o debate entre os pesquisadores, explorando os seguintes eixos de reflexão:
1 As discussões sobre a história das práticas e teorias científicas, abordando as diferentes dimensões das ciências, tais como suas esferas de sociabilidade, seus fóruns de legitimação, a formação dos homens de ciência, sua relevância social, suas tradições etc., procurando trabalhar de forma integradora estas esferas. Desse modo, as reflexões atuais e a ambigüidade com que tratamos o tema da ciência e da tecnologia podem ser aprofundadas, no sentido de compreender as práticas e teorias científicas como resultados de atuações coletivas e historicamente constituídas
2 A importância das interpretações médicas sobre a vida social e do tema da "saúde" como um quadro de referências fundamental nos debates sobre construção do Estado-Nação, 'civilização' e 'desenvolvimento'.
3 Os desafios colocados ao historiador diante da multiplicidade de agentes e instituições que interagem na rede de interesses, resistências, transformações, recepções e negociações que configura a medicina e a saúde, havendo a necessidade de se ampliar a noção de fontes para este campo de pesquisa
4 O diálogo transdisciplinar suscitado pelas novas abordagens em história das ciências na história da medicina, saúde, enfermidades e vice-versa; os impasses e convergências teórico-metodológicas desta proximidade e as novas perspectivas em andamento para a área.
Tal proposta justifica-se pela dinâmica que as áreas de História das Ciências e História da Medicina e da Saúde vem desenvolvendo na historiografia do país, em especial, no Rio de Janeiro, através de programas de pós-graduação especializados, de publicações de ampla circulação e do diálogo com outras abordagens do conhecimento histórico.

Programação:

04/08 - Segunda-feira - Tarde (14h às 16h)
  • Ingrid Fonseca Casazza
    A Defesa Médica do Brasil Central (1917-1940)
    O relatório da viagem científica realizada por Belisário Penna e Arthur Neiva ao interior do Brasil, publicado nas Memórias do Instituto Oswaldo cruz causou grande repercussão entre as elites médica, intelectual e política do país. Neste documento, as populações sertanejas foram caracterizadas como doentes, atrasadas e resistentes a mudanças. Essas imagens relacionadas às populações do sertão foram amplamente comentadas e discutidas em periódicos médicos-científicos e de letras dos anos 1920 e 1930. A repercussão do relatório consagrou a imagem do Brasil como um "imenso hospital". Enquanto grande parte da intelectualidade brasileira do período ratificava essa imagem, o periódico A Informação Goiana contrariava enfaticamente a caracterização do sertão e dos sertanejos como doentes. A Informação Goiana, publicação editada por médicos goianos, de 1917 a 1935, tinha como objetivo refutar o diagnóstico do Brasil-doente apresentado por Penna e Neiva em 1912 e visava divulgar as qualidades do estado de Goiás. Este trabalho tem por objetivo analisar a importância de A Informação Goiana nos debates sobre a transferência da capital federal para o interior do país e seu diálogo com outros periódicos e registros locais que também estiveram empenhados na defesa médica do Brasil Central.
  • Wanda Latmann Weltman
    A revista Chácaras e Quintais no período 1927 a 1948: cientistas no debate agrícola
    O trabalho apresenta a revista Chácaras e Quintais nos anos de 1927 a 1948. Neste período constata-se o estabelecimento de fortes laços entre Chácaras e Quintais e o Instituto Biológico de São Paulo, ao mesmo tempo em que se verifica, a crescente importância da revista para divulgar artigos de cientistas que atuavam nas agências estatais das áreas de agricultura e criação animal, tanto no que se refere ao Ministério da Agricultura, como às secretarias dos estados e órgãos a elas vinculados.
    São abordados o conteúdo da revista e seus autores, no período e os concursos promovidos pela publicação, que algumas vezes assumiam o caráter, de verdadeiras campanhas políticas. Trata ainda do debate sobre a ciência que ocorria nas páginas do periódico e da relação estabelecida entre o Conde Barbiellini, seu editor e os cientistas-articulistas.

  • Alex Gonçalves Varela
    Ciência e Patronagem na Correspondência entre D. Rodrigo de Sousa Coutinho (“Pai e Protetor”) e José Bonifácio de Andrada e Silva (“Venerador Sincero e Criado Humilíssimo”) (1799-1812)
    A correspondência trocada entre o D. Rodrigo de Sousa Coutinho e José Bonifácio de Andrada e Silva revela a aliança tácita entre os homens de governo e os estudiosos das ciências naturais. As missivas trocadas entre os dois personagens permitem conhecer todo o processo de constituição de uma amizade que foi de extrema importância para o processo de emergência e consolidação das ciências naturais no Império português, sobretudo no campo da mineralogia e da mineração. O trabalho científico de José Bonifácio, no cargo público de intendente Geral das Minas e Metais do Reino, era oferecido como um generoso serviço do vassalo dedicado ao monarca e ao ministro D. Rodrigo. O naturalista-intendente considerava o seu trabalho fundamental para a recuperação da mineração do Reino, fato que possibilitaria assim o engrandecimento da nação portuguesa. E, D. Rodrigo (“seu maior amigo e fiel e obrigado venerador”) não pouparia esforços para apadrinhar o naturalista, disponibilizando todos os recursos materiais e humanos para a melhor execução possível do trabalho. O empenho e a dedicação de Bonifácio no projeto de recuperação da mineração do Reino, sobretudo a descoberta de novas minas, lhe permitiu acumular honra e desfrutar de títulos, conseguindo um lugar de destaque na sociedade portuguesa.
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  • Karoline Carula
    Sociabilidade científica e opinião pública sobre o darwinismo nas Conferências Populares da Glória (1873-1880)
    Pertencer ao mundo civilizado era o que desejava larga parcela da elite para o Brasil na segunda metade do século XIX. Neste sentido, a difusão de idéias de caráter cientifíco/cientificistas fazia parte de um projeto de nação que se estabelecia, pois o país precisava alcançar o desenvolvimento das sociedades civilizadas. Para atingir esse patamar, se fazia necessário o conhecimento da ciência, considerada, sobretudo pelas camadas letradas, como o veículo que levaria o país a percorrer o caminho rumo à civilização. Com o intuito de difundir a ciência, foram criadas em 1873 as Conferências Populares da Glória no Rio de Janeiro, que se constituíram como importante espaço público de sociabilidade letrada científica. Foi nestas Conferências que, em 1875, as idéias darwinistas ultrapassaram o circuito das instituições letradas de saber e ensino, por meio das preleções do médico Augusto Cezar Miranda Azevedo. O objetivo deste trabalho é analisar a constituição dessas Conferências como espaço de sociabilidade científica e de formação de opinião pública, entre os anos de 1873 e 1880. Para tal, enfoco a celeuma gerada na imprensa da Corte em conseqüência das preleções que abordaram o tema do darwinismo, que foi o assunto a obter maior repercussão seguida de polêmica.
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  • Dominichi Miranda de Sá
    Uma interpretação do Brasil como doença e rotina: a repercussão do relatório médico de Arthur Neiva e Belisário Penna (1917-1935)
    O relatório da viagem científica promovida pelo Instituto Oswaldo Cruz em 1912 ao interior do Brasil, sob a liderança dos médicos Arthur Neiva e Belisário Penna, suscitou intenso debate intelectual e ocupou grande espaço em revistas de letras e ciências entre 1910 e 1940. Segundo as conclusões do relatório, os habitantes do interior do país seriam atrasados, indolentes, fatalistas e fracos porque sofreriam de doenças plenamente evitáveis, como a ancilostomose, o impaludismo e a doença de Chagas. A partir da leitura e circulação do relatório, intelectuais, médicos, literatos e cientistas brasileiros discutiram temas variados como imigração, miscigenação racial, analfabetismo, desatenção às leis, e, sobretudo, a definição da história do país como um processo de crescente resistência a mudanças, cuja maior expressão seria o recurso freqüente a práticas curativas ‘populares’. No seu dizer, Penna e Neiva teriam fornecido subsídios para a compreensão de uma parcela da população brasileira que teria vivido, por séculos, entregue a si mesma. Com este trabalho, pretende-se discutir como as controvérsias intelectuais sobre a questão nacional no Brasil deste período dialogavam e se reapropriavam das temáticas do relatório Neiva-Penna em constantes reelaborações.

05/08 - Terça-feira - Manhã (10h às 12h)
  • marco antonio cabral pereira
    A Peste Negra Tropical: um breve estudo da febre amarela no Rio de Janeiro do início do século XX a partir das crônicas de Olavo Bilac (1904-1907)
    Muito além de um poeta parnasiano, militante político e pedagogo honorário fora Olavo Bilac um exímio cronista. Suas obras, desta natureza, publicadas em jornais fluminenses do início do século passado corroboram a sua posição política que denunciava as mazelas do Rio de Janeiro republicano, principalmente aquelas ligadas as aspectos que tocavam em assuntos de urbanização, higiene e saúde. Para Bilac a cidade era insalubre e doente, uma verdadeira urbe de mesentéricos.
    Nosso paper abordará a atuação intelectual de Olavo Bilac como agente da imprensa que viabilizou uma imagem positiva do Doutor Oswaldo Cruz no combate ao flagelo da febre amarela, ao submeter, em suas análises, a necessidade de mudanças nos hábitos e costumes dos cariocas que muitas vezes lembravam "povos de barbárie" ou homens cuja higiene remetia, em analogia, a Europa da Idade Media. Medidas profiláxicas, necessidade do combate ao vetor da doença, medidas urgentes de saneamento básico, querelas entre políticos, médicos, sanitaristas e povo carioca são apenas pano de fundo para que possamos entender as dimensões políticas e socioeconômicas que a Peste Negra Tropical: a febre amarela gerara na capital federal no início do século passado.


  • Paula de Oliveira Rodrigues
    De uma imposição à uma revolta popular: demonstração de organização, luta e identidade de um povo descontente com seu governo.
    No começo do século XX, o Brasil vivia um momento perturbado politicamente e com uma população revoltada contra a dominação da Velha República. O Rio de Janeiro era a maior cidade do país. A falta de saneamento básico e as péssimas condições de higiene faziam da cidade um foco de epidemias. A população pobre é a principal vítima da ineficiência da saúde pública. Estas epidemias deram à capital do país o apelido de túmulo de estrangeiros. Para solucionar o problema, o governo impôs inúmeras normas autoritárias. Encontrava-se entre elas a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola. Começando, assim, a revolta contra a vacina. Isso causou uma repulsa pela maneira autoritária como foi feita. E logo os agitadores da oposição começaram a usar isso como pretexto de manifestações contra o governo.
    Mesmo que teoricamente o governo tenha sido vencedor na revolta, teve de ceder sobre o projeto da vacinação obrigatória. O conflito demonstrou que não deve apenas haver imposição de leis, mas uma conscientização sobre a importância da prevenção e dos cuidados com a saúde.

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  • Tamara Rangel Vieira
    Uma clareira no sertão? Saúde, nação e região na construção de Brasília (1956-1960)
    Em 1892 foi organizada pelo governo a primeira comissão de estudos do Planalto Central com o objetivo de demarcar a região para onde deveria ser transferida a capital do Brasil. Naquela época, a Comissão Cruls observou que a região percorrida seria ideal para abarcar o empreendimento. Vinte anos depois, uma viagem de médicos sanitaristas à mesma região considerou-a vítima da pobreza, do isolamento e das doenças – imagem que inviabilizou o projeto mudancista e ficou associada ao Brasil Central desde então. Até a construção de Brasília outras comissões de estudos foram organizadas, mantendo-se entre suas preocupações as condições de salubridade do interior do país. Em 1956, no governo de Juscelino Kubitschek, o novo presidente decidiu efetuar a mudança da capital para a região outrora demarcada pela Comissão Cruls. Buscando compreender o significado desta decisão, este trabalho analisa as diferentes imagens de sertão que acompanharam as iniciativas em torno da mudança da capital; a permanência da preocupação com o clima e a salubridade do Brasil Central nas comissões organizadas nos anos 40 e 50; a participação ativa de Goiás na defesa da transferência da capital para a região do Planalto Central goiano e a importância do papel dos médicos e sanitaristas na construção de Brasília.
  • Letícia Pumar Alves de Souza
    Um problema dos trópicos: a lepra e sua possível terapêutica na primeira metade do século XX
    Nesta pesquisa procuro discutir até que ponto a medicina tropical pode ser vista como uma tradição de pesquisa que informa os estudos sobre a lepra no Brasil e no exterior. Busco demonstrar que a inclusão da lepra no rol de doenças consideradas tropicais teve grande repercussão na forma de encarar a doença e seu combate, em especial, no que se refere à procura de uma terapêutica específica para o tratamento da doença. Por essa razão, acredito que quando os médicos e sanitaristas brasileiros defendiam campanhas de combate à lepra no país, eles acionavam e dialogavam com numerosos argumentos que faziam parte de uma forma de encarar os trópicos e suas doenças que foi sendo consolidada, desde o final do século XIX, no campo médico ocidental. Durante a pesquisa, procurei analisar especificamente a aceitação do uso terapêutico do óleo de chaulmoogra e de seus derivados na lepra, indicando como as pesquisas nacionais situam-se em uma rede internacional de saberes e práticas relacionadas a esta doença, e, assim, tem significativa importância neste processo de construção e validação desta terapêutica, na primeira metade do século XX.
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  • Ivo Pereira da Sila
    EM BUSCA DAS BOAS ÁGUAS: os Aguadeiros de Belém e a Companhia das Águas do Gram-Pará, 1855-1885
    Este trabalho procura analisar o processo de abastecimento de água em Belém do Pará no século XIX e suas mudanças ao longo desse período. Durante quase todo o século XIX o processo de apropriação da água para consumo doméstico, feito pela população, foi bastante empírico, pois o acesso ocorria através do uso dos poços, igarapés e fontes. Enquanto a cidade possuía dimensões espaciais reduzidas e uma pequena população esse “sistema rudimentar” (tecnologia rudimentar) foi eficiente. No entanto, devido as transformações que a cidade de Belém experimentou na segunda metade do século XIX, surge um clamor da população e das autoridades pela melhoria no processo de abastecimento de água. Nesse contexto surge a figura do aguadeiro – que era uma espécie de vendedor ambulante de água – era comum encontrar negros tangendo bois que puxava as pipas d'água pelas ruas de Belém. No entanto, o “produto” vendido pelos aguadeiros era visto como sendo de baixa qualidade e condenado pela saúde pública. A partir desse momento começa a surgir as propostas de canalização de água potável para a capital, o que se materializou com a criação, em 1880, da Companhia das Águas do Gram-Pará, dando início a uma nova etapa no acesso a água pela população de Belém da Belle Époque.

05/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 16h)
  • Verônica Pimenta Velloso
    Associações farmacêuticas e ensino: a busca do sentido científico no oitocentos
    Reflexão sobre o papel da Sociedade Farmacêutica Brasileira, criada em 1851 na capital imperial, no processo de institucionalização do ensino farmacêutico no Brasil. A referência portuguesa sobressai aqui, lembrando que foi por ocasião da transferência do Príncipe Regente D. João e sua Corte para a cidade do Rio de Janeiro, que foram criadas as primeiras escolas de cirurgia na Bahia e no Rio, que incluiriam nos anos seguintes uma disciplina de matéria médica e farmácia em seus currículos. Neste período, formou-se o boticário Ezequiel Corrêa dos Santos (1801-1864), um dos principais fundadores daquela associação farmacêutica e seu presidente. A partir da década de 1850 evidenciavam-se pontos de identificação entre os dois países, referentes à farmácia e ao seu ensino. A busca do sentido científico para as práticas farmacêuticas pelos atores filiados à associação brasileira e à Sociedade Farmacêutica Lusitana, em Lisboa, passavam por sentimentos de dependência das faculdades de medicina, e de inferioridade diante das nações consideradas civilizadas.
    Este estudo é parte integrante de minha tese de doutorado, “Farmácia na Corte Imperial: práticas e saberes (1851-1887)” defendida no Programa de Pós-Graduação de História das Ciências da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (2007).

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  • Izabel Santos de Oliveira, Patrícia Marins Cruz
    O exercício da Medicina e a geração de um sempre “novo povo” – Gestação e Parto – as antecipações e respostas às políticas públicas de saúde na Maternidade-Escola da UFRJ
    A história da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro atravessa mais de um século da história do Brasil. Sua concepção foi resultado do conjunto de fatores que envolveram interesses políticos, sociais e científicos que continham em seu âmago os anseios de construção da nação brasileira. Desde o Império já havia a preocupação com a formação científica para a realização de partos. Mas, somente na República, em 1904, o projeto foi consolidado. Muitas das técnicas e procedimentos médicos atualmente disseminados para o acompanhamento, tratamento e prevenção de problemas que dizem respeito à Obstetrícia e Ginecologia, foram implantados no Brasil a partir da ME. Cabe dizer que, em sua maioria, os interesses pela pesquisa e pela inovação técnica partiram do seu corpo docente de forma autônoma em relação às políticas educacionais e de saúde. Neste sentido, a pesquisa de sua história e dos fatores, sócio-econômicos, políticos e culturais que a ela se referem, torna-se importante quando percebemos que, através desta história institucional, podemos perceber múltiplos aspectos que dizem respeito às inovações tecnológicas na área da saúde da mulher, assim como às mudanças e conquistas acerca das interpretações sobre questões de gênero e direitos sociais e políticos.
  • Luiz Antonio da Silva Teixeira
    De tumor maligno a neoplasia: o câncer na mira da medicina brasileira
    O trabalho aborda os primórdios dos estudos sobre o câncer no Brasil, procurando compreender sua transformação em problema social e alvo do saber científico. Nosso objetivo central é discutir a construção da doença como problema médico relevante e as justificativas usadas nesse processo. Também analisamos como se deu a passagem de uma visão do indivíduo doente (e incurável) para uma outra, que via a doença como um problema social, a ser tratado pela medicina.
    Os primeiros estudos sobre o câncer no país foram realizados a partir do início do século XX, por médicos da Capital Federal e apresentados nas duas grandes sociedades médicas da cidade, a Academia Nacional de Medicina e a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. O interesse dos médicos no problema do câncer no Brasil iria se estabelecer a partir de seus contatos com a literatura internacional sobre o tema e, principalmente, por sua atuação em congressos médicos internacionais. No início do século XX, a doença cada vez mais era alvo de atenção da medicina ocidental. A vinculação efetiva do câncer às preocupações da medicina nacional se deu num caminho ascendente, até a sua incorporação pela saúde pública, ocorrida com a reforma sanitária de 1920.

  • Maria Regina Cotrim Guimarães
    Catedráticos clínicos educadores - uma geração de professores pensando a docência nas faculdades de medicina (anos 1950 e 1960).
    O trabalho discute uma geração de professores de Clínica Médica que se tornaram catedráticos na década de 1950. Em períodos anteriores aos anos 1950, a identidade de professor foi complementar à de médico. Tal médico-professor valia-se do estatuto de catedrático como forma de obtenção de prestígio social, tanto para ações políticas na área da Saúde Pública, quanto para incrementar sua clínica privada, o que, por sua vez, lhe dava experiência para o ensino nas enfermarias e ambulatórios. Tomamos como exemplos dois ex-catedráticos que tiveram papel fundamental na transformação do perfil dos professores de medicina, com uma postura crítica sobre o ensino que receberam: preocuparam-se com mudanças nos conteúdos e na didática dos cursos médicos. Promoveram encontros para debates sobre a qualidade das faculdades de medicina, particularmente da disciplina de Clínica Médica, que, na época, representava o conhecimento essencial do médico.
    Analisamos as negociações para a conquista da cátedra, e o papel central dos catedráticos clínicos reformadores num movimento de grande importância na história do ensino médico no Brasil, relacionado tanto com a Reforma Universitária de 1968, quanto com a crítica à abertura de inúmeras faculdades de medicina após a Reforma.

  • Benjamin Xavier de Paula
    O ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO DA LUTA SOCIAL
    No presente trabalho nos interessa compreender o processo de consolidação da universidade moderna como fruto dos dois movimentos: a Revolução Científica, sob a qual se fundou o paradigma da razão; e a consolidação das idéias iluministas que se assentaram como fórum privilegiado do Estado Moderno. Destes dois movimentos surge, então, a universidade, voltada para a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa, aos quais, no século XX, agrega-se a extensão.
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06/08 - Quarta-feira - Manhã (10h às 12h)
  • Vanessa Pereira da Silva e Mello
    "A Ciência Brasileira Como Projeto de Estado: viagens científicas e integração nacional na primeira década do século XX"
    Na década de 1910 houve um movimento por parte do Estado brasileiro de valorização do sertão e que foi acompanhado por expedições de caráter médico-científico ao interior do país. Elas estavam ligadas a projetos de desenvolvimento de infra-estrutura de transportes e comunicação para a integração nacional e contavam com a participação de cientistas e médicos das principais instituições de pesquisa do país. O Instituto Oswaldo Cruz desde 1908 realizava viagens científicas que acompanhavam essas atividades, sobretudo as que se relacionavam à construção de ferrovias. A partir de 1910 elas passaram a ser requeridas pelo Instituto de Obras Contra as Secas. Dentre as viagens realizadas a pedido deste órgão, destaca-se a que foi chefiada por Belisário Penna e Arthur Neiva, realizada em 1912 ao norte e nordeste do Brasil, com o objetivo de conhecer e mapear o quadro de doenças destas áreas. Este projeto tem como questão central analisar a circulação do relatório produzido a partir desta viagem, visto que ele foi publicado como trabalho científico numa importante revista médica do período, chamada Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e, posteriormente, adquiriu significado de panfleto nacionalista e fonte de pesquisa sociológica sobre as populações do interior do país.
  • Arthur Torres Caser
    Os Relatórios Médicos da Comissão Rondon.
    Este trabalho tem como principal objetivo analisar as imagens presentes nos relatórios elaborados pelos médicos que participaram da Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas – também conhecida como Comissão Rondon – que percorreu os estados brasileiros de Mato Grosso e Amazonas entre os anos de 1907 e 1915. Esta Comissão tinha como objetivo precípuo a instalação de linhas e estações telegráficas na região noroeste do Brasil, no entanto, a atividade construtora foi acompanhada por iniciativas no sentido de “civilizar” indígenas, por levantamentos científicos sobre a fauna, a flora e a formação geológica das regiões percorridas e, também, pela produção de relatórios médicos que tratavam tanto das condições clínicas dos membros da expedição quanto de questões ligadas à salubridade (ou insalubridade) dos locais atravessados. Os relatórios médicos da Comissão interpretam a partir de um olhar médico – como não poderia deixar de ser – os “sertões” do Brasil, destacando, desse modo, a onipresença da malária e o aspecto desalentador das cidades e pequenos núcleos populacionais aí presentes e propondo medidas sanitárias para a melhoria das condições de vida daquelas populações.
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  • Carolina Arouca Gomes de Brito
    A Comissão Rondon – Ciência, Medicina e Integração Nacional (1907-1915), Carolina Arouca Gomes de Brito, Departamento de Pesquisa em História da Ciência e da Saúde, Depes, COC/Fiocruz – Rio de janeiro
    O presente trabalho tem como objetivo apresentar os relatórios médicos das viagens e expedições promovidas pela Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas, mais conhecida como “Comissão Rondon”, entre 1907 e 1915. Propõe-se compreender as formas pelas quais esses relatórios médicos contribuíram para a caracterização tanto do interior do Brasil como uma região doente, atrasada e isolada do restante do país quanto das populações rurais brasileiras como atrasadas e resistentes à mudanças sociais.
  • Patricia Marinho Aranha
    A Comissão Rondon: Sertão, Saúde, Progresso e Formação da Identidade Nacional.
    Entre meados do século XIX e início do século XX a idéia de construção de uma nação genuinamente brasileira estava em voga na intelectualidade nacional. Paralelamente a este pensamento havia o interesse do Estado em chegar ao que era entendido como sertão e lá também afirmar o seu poder. É neste contexto que se insere a Comissão Rondon, com o objetivo inicial de ligar a Capital Federal (o Rio de Janeiro) à Manaus através de uma rede de telégrafos. Para além desta ruptura de vastas distâncias, o trabalho de Rondon e dos seus é particularmente valorizado no que diz respeito ao reconhecimento de territórios, demarcação de fronteiras, mapeamento topográfico e hidrográfico detalhado das regiões por onde passavam, reconhecimento de doenças locais e tratamentos para as mesmas, além do contato com tribos indígenas e do levantamento de espécimes nativos. Este legado da Comissão, devido o fato desta ter ido muito além do que lhe era imputado, é, sem dúvidas, muito mais importante do que a própria ligação das cidades através dos telégrafos (visto que estes nunca funcionaram perfeitamente). Este trabalho tem por objetivo analisar a Comissão: o contexto em que estava inserida, seu funcionamento, a difusão de suas descobertas e as conseqüências desta no cenário nacional.

  • Leandro Francisco Cavalcante
    Natureza e Cultura na Conquista da América: os jesuítas e os descobrimentos do Amazonas.
    O presente trabalho pretende verificar em que medida pode-se reconhecer uma relação entre a produção de conhecimento sobre a natureza e o processo de conquista da região do Amazonas durante os séculos XVII e XVIII. Pretende-se também demonstrar como este conhecimento era feito de maneira sistemática e obedecia a determinados padrões. Visto que o recorte espacial no qual essa pesquisa se debruça é a região amazônica, tem-se como objeto de análise o relato de viagem do Padre Critobal de Acuña; “Novo Descobrimento do Grande Rio das Amazonas”, e as narrativas históricas dos padres João Felipe Bettendorf; “Missão dos padres da Companhia de Jesus no Maranhão”, e João Daniel; “Tesouro Descoberto no máximo do Rio Amazonas”. Tal análise tem como foco apresentar o esforço dos colonizadores, mais especificamente, os missionários jesuítas, na produção e sistematização deste conhecimento. Por fim, elucidaremos como o modelo da História Natural aparece nos textos acima mencionados.

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06/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 16h)
  • Larissa Moreira Viana, Magali Romero Sá
    A ciência médica entre a França e o Brasil: estratégias de troca científica no período entre-guerras
    A década de 1920 testemunhou uma progressiva aproximação entre franceses e brasileiros no campo das ciências bio-médicas: pesquisas originais brasileiras passram a ser resenhadas nas publicações da "Société de Biologie" da França; médicos franceses e brasileiros integraram programas de intercâmbio, realizando conferências nos dois países; e periódicos médicos, como a "Revue Sud-Américaine de Médecine" e "A Patolojia Geral" passaram a ser publicados sob os aupícios de cientistas franceses. Esta comunicação pretende discutir tais aproximações no contexto da intensa competição internacional por nichos de atuação científica na América Latina no período entre-guerras. Os franceses constituíram estratégias de divulgação científica baseadas nos ideais de "latinidade", pretenso elo a ligar a França e a América Latina. Cabe perguntar-nos, em particular, sobre os significados que os médicos brasileiros dos anos 20/30 atribuíram a sua participação nestes organismos de cooperação intelectual franco-brasileira, questão que norteará a presente comunicação.
  • Ethel kauffmann
    o sucesso cientifico da alemanha nos séc.XIX e XX
    ao traçar uma panorâmica do que foi a ciência no mundo a partir do séc XIX, vamos ate a alemanha para entender o seu sucesso cientifico. que pode ser medido através do desenvolvimento das pesquisas e da concessão de prêmios nobel. de todos os prêmios concedidos entre 1901, quando foi instituído, a 1932, antes de hitler subir ao poder: 33 foram para pesquisadores alemães, 18 para a grã- bretanha e seis para os estados unidos.
    impulsionados pelo governo, na virada do século XIX para o XX a alemanha possuía centros de pesquisa acadêmico cientifico considerados os melhores do mundo, a indústria e as pesquisas caminharam juntas resultando num crescimento industrial e acadêmico.
    a alemanha liderava em ciências biomédicas e farmacológicas, e formou nesta época a base de uma indústria farmacêutica global: a bayer através da aspirina modificou o tratamento da dor e da febre e o laboratório hoeschst inovou com a anestesia local. em 1911 foi criada a sociedade kaiser guilherme, e já na década de 1920, outros Institutos Kaiser foram criados em outras partes da alemanha com o objetivo de incentivar as pesquisas. o objetivo deste trabalho é mostrar de que modo à alemanha antes de hitler, atingiu este patamar.


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  • Rafael de Almeida Daltro Bosisio, Sabrina Marques Parracho Sant'Anna
    Transferências técnico-científicas: a experiência do Império brasileiro
    O Ministério dos Negócios Estrangeiros exerceu, no período imperial, múltiplas funções. A ele competia executar a política externa brasileira, definindo um eu e um outro, e construindo assim os alicerces de uma identidade nacional. Em paralelo às práticas tradicionalmente atribuídas ao ministério, é digna de nota sua ação no sentido de transferir tecnologia, fazendo circular pessoas, bens e informações, numa tentativa de criar condições para a formação e manutenção do império brasileiro. No discurso institucional acreditava-se que a importação de tecnologia possibilitaria o ingresso do país no grupo das nações civilizadas. Ora desejando aproximar-se da Europa, ora buscando construir uma civilização adequada aos trópicos, forjava-se uma identidade nacional baseada no território e num sentimento de exclusão do mundo civilizado. O problema da pesquisa pode ser assim apresentado: De que modo a transferência de ciência e tecnologia contribuiu para a construção do Estado-nação brasileiro? A partir dessa questão, procuramos refletir sobre esta atuação do ponto de vista da relação entre o Ministério e os encarregados dos assuntos de Agricultura, discutindo a aquisição de inovações agrícolas (sementes, máquinas e insumos) para a construção da nação.
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  • maria leticia galluzzi bizzo
    A FAO e as ciências da nutrição no Brasil: idéias em perspectiva (1944-1960)
    A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), criada no imediato pós-guerra para fazer face a problemas alimentares mundiais, exibiu-se como órgão de cooperação internacional no contexto da saúde de substancial impacto em distintos países. Particularmente no Brasil, tais relações foram de profícua intensidade e se caracetrizaram por uma via de mão dupla na indução, surgimento, circulação e adaptação de idéias científicas, contribuindo para a conformação de teorias e métodos imbricadas na formação de identidades científico-intelectuais.
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  • Marta de Almeida
    SOBRE CLIMA E SALUBRIDADE NOS CONGRESSOS MÉDICOS LATINO-AMERICANOS
    No início do século XX o debate científico em torno da salubridade ou insalubridade de um país ainda era assunto polêmico. Muitos médicos utilizavam em seus trabalhos, dados produzidos por instituições científicas que desenvolviam pesquisas sobre clima e eram responsáveis entre outras funções, pela observação e medição de temperaturas, índices pluviométricos e oscilações atmosféricas. Nesta comunicação será apresentado um breve panorama sobre as seções científicas relacionadas com a climatologia nos Congressos Médicos Latino Americanos (CMLA). A ênfase será dada para a participação do Observatório Nacional no 4o. CMLA realizado em 1909 no Rio de Janeiro, através de uma memória apresentada pelo diretor Henrique Morize (1860-1930) sobre a influência da umidade e do vento na sensação térmica e dos artefatos levados para a Exposição Internacional de Higiene, anexa ao Congresso. Pretende-se destacar a interface de estudos realizados sobre clima e medicina no âmbito dos congressos científicos, identificando redes e conexões científicas entre diferentes áreas de conhecimento e instituições. Busca-se ainda inserir esta produção científica no debate político da época acerca das nacionalidades latino-americanas.
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07/08 - Quinta-feira - Manhã (10h às 12h)
  • Érico Silva A. Muniz
    A triste vida das populações rurais do Brasil: revelações do Programa de Erradicação da Bouba (1956-1961).
    O trabalho pretenderá analisar as relações entre políticas de saúde e desenvolvimento no Brasil no governo Juscelino Kubitschek (1956-1961). O Programa de erradicação da bouba será analisado a partir de sua relação com as diretrizes de organismos internacionais e do papel que essa doença e as medidas em saúde pública para erradicá-la representaram para expansão da autoridade pública nas áreas rurais do Brasil. O curso da campanha realizou - além da pesquisa sobre controle dessa endemia rural - uma denúncia das condições de saúde e revelou os hábitos e costumes do homem do interior.
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  • Fabio Oliveira Costa, Rafael Fernandes Cassemiro
    Saneamento da Baixada Fluminense: as contribuições da Comissão de Saneamento (1934) e Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense (1936)
    Este trabalho visa apresentar os resultados parciais da pesquisa “Meio ambiente e saneamento na Baixada Fluminense: a criação e atuação da Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense (1936)”, desenvolvido no campus da UERJ situado no município de Duque de Caxias e financiado pela FAPERJ, sob a orientação da Professora Simone Fadel. Para tanto, o foco a ser apresentado será o exame do relatório feito por Hildebrando de Góes na Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense (CSBF) em 1934, como também o funcionamento e organização da Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense (DSBF), fundada em 1936. Para isso é importante observar que essa diretoria foi fruto dos trabalhos realizado pela CSBF em que relatou os trabalhos realizados anteriormente, os resultados atingidos, a conservação das obras, materiais e equipamentos. Esta comissão desempenhou um papel fundamental de elaboração de propostas para região cujo conteúdo, legitimou através do saber técnico-científico dos engenheiros às novas propostas de intervenção local de combate a malária. Destaca-se que a ótica desenvolvimentista tanto da comissão como da DSBF ambas situadas na “era Vargas”, articulavam o combate a essa profilaxia (ponto nodal do saneamento local) com um projeto de promoção do desenvolvimento desta região.
  • José Leandro Cardoso
    As ciências sociais e a educação sanitária no SESP: estratégias de convencimento interno.
    O presente trabalho se dedica ao estudo da educação sanitária e sua participação como elemento norteador das ações de saúde pública do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), durante os anos de 1950. A abordagem busca discutir a interface entre saúde e desenvolvimento no pós Segunda Guerra Mundial, tendo como foco a atuação de cientistas sociais na elaboração de estudos que subsidiaram as atividades de saúde pública e de educação sanitária, nas regiões do hinterland brasileiro. Através de uma estrutura burocrática, o SESP consolidou seu modelo de saúde pública na década de 1950, associando medidas de intervenção estruturais à organização comunitária e à formação de pessoal qualificado para atuar em hospitais e unidades de saúde. Na Seção de Pesquisas Sociais, José Arthur Rios, Carlos Medina e Luiz Fernando Fontenelle, cientistas sociais influenciados pelos estudos de comunidade, promoveram estudos sobre as populações rurais e seus hábitos a fim de dar suporte teórico e metodológico às atividades, sobretudo, de educação sanitária. Essas diretrizes foram transmitidas aos demais profissionais do SESP através de cursos de formação, folhetos, boletins de circulação interna e publicações como o livro A Educação dos Grupos, que constituem as fontes para esta análise.
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  • Simone Fadel
    Engenheiros, meio ambiente e saneamento no período pós-30 : a criação e atuação da Diretoria de Saneamento da baixada Fluminense(1935) e do Departamento nacional de Obras de Saneamento (1940)
    O presente trabalho apresenta os primeiros resultados da análise das fontes sobre a Diretoria de Saneamento da Baixada Fluminense, criada 1936. A formação desta diretoria representou a consolidação do papel dos engenheiros na intervenção ambiental visando o saneamento de regiões rurais se constituindo em um marco institucional no Ministério de Viação e Obras Públicas. O estudo sobre a institucionalização do papel da engenharia no campo do saneamento implicou numa ampla busca e análise de fontes, principalmente, as Revistas do Clube de Engenharia e a Revista Ferro – Carril. Através dos diferentes temas que pontuaram a agenda e a discussão sobre a identidade do engenheiro na década de 30 procurou-se perceber as redes de saberes que vincularam saneamento, desenvolvimento e engenharia. No que concerne especificamente às ações da Diretoria da Baixada Fluminense concepção de saneamento destes profissionais legitimaram as medidas de combate à malária e exerceram um forte impacto no ambiente local, em especial, nas suas bacias hidrográficas. O estudo buscou contribuir com a historiografia da engenharia, através da análise da relação saúde/saneamento/engenharia e suas conseqüências nas intervenções ambientais efetivadas no saneamento de regiões rurais no projeto do Estado do período.


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  • Nicole Régine Garcia
    Prorural: A criação da Previdência Rural no governo Médici
    Esta comunicação tem por objetivo analisar a criação da Previdência Rural durante o governo Médici, no ano de 1971, auge da ditadura militar.
    O Programa de Assistência ao Trabalhador Rural (Prorural) foi, de fato, a primeira previdência implantada no país que obteve êxito, no sentido de ter conseguido, ainda que com ressalvas, atingir seus propósitos: contemplar a criação de uma assistência médica constante e fixa nas localidades rurais e dar aposentadoria aos trabalhadores rurais que até então não recebiam nenhum tipo de auxílio na velhice.
    Esta previdência possuiu características específicas no momento de sua implantação: somente o homem e arrimo de família que teria direito à aposentadoria; e o trabalhador não contribuía com o sistema, precisava apenas comprovar de três a cinco anos consecutivos de trabalho rural.
    Deste modo, o Prorural se configurou como uma política social que, a priori, parece incongruente ao período que foi implantado. Contudo, é esta aparente incoerência que queremos desconstruir, ao elucidarmos as motivações e os antecedentes de sua criação, na possibilidade de melhor vislumbrar a complexidade do período e desse programa que vigora até os nossos dias.


07/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 16h)
  • André Luis de Lima Carvalho
    História, ética animal e darwinismo: Frances Power Cobbe, Charles Darwin e a vivissecção na Inglaterra vitoriana
    A partir da década e 1860, enquanto o programa darwinista se afirmava no cenário cultural e científico da Inglaterra vitoriana e seus atores promoviam o avanço da ciência em moldes materialistas, uma disciplina que se destacava era a fisiologia experimental. Essa nova ciência dependia, porém, de uma prática de profundas implicações éticas: a vivissecção - uso de animais vivos em experimentos fisiológicos. Na Inglaterra, país de amantes de animais, inúmeros foram os indivíduos e organizações a erguer suas vozes contra essa prática, com destaque para Frances Power Cobbe, jornalista, escritora e militante em diversas causas sociais. Sua atuação fervorosa, articulações políticas e argumentação eloqüente fizeram dela uma respeitável adversária dos que defendiam a vivissecção. Essa militância antivivisseccionista, da qual Cobbe era possivelmente a representante mais significativa, fez com que Charles Darwin e aliados se envolvessem diretamente no debate, defendendo a legitimação da prática. No cerne dessa polêmica figuram disputas sobre os limites éticos da ciência e o lugar do homem na ordem natural, incluindo a questão da mente animal e sua relação de continuidade com a mente humana, uma das teses centrais do programa darwinista. Essas questões serão o foco do presente trabalho.
  • Janis Alessandra Pereira Cassília
    Doença Mental e gênero feminino: as pacientes da Colônia Juliano Moreira (1940-1941)
    Este trabalho analisa a relação entre doença mental e gênero feminino, a partir da década de 1940, tomando como fontes primárias Fichas de Observação de 310 internas da Colônia Juliano Moreira (CJM). Com base em revisão bibliográfica sobre o tema, busquei entender quem eram essas mulheres às quais se destinou a assistência psiquiátrica vigente, quais as características distintivas de doença mental que a psiquiatria observava nessas mulheres; e quais as marcas da doença consideradas próprias do gênero feminino. Os resultados demonstram que grande parte da bibliografia sobre o assunto se refere ao século XIX até o início da década de 1930, destacando o uso freqüente à época do diagnóstico de histeria. No caso das pacientes da CJM, sua entrada nessa instituição esteve relacionada às transformações na política assistencial psiquiátrica empreendida pelo Governo Vargas no período. Nesse contexto a CJM diversificou suas formas de atendimento, começando a receber pacientes femininas. A relação entre doença mental/sexualidade/fisiologia feminina está presente nestas fichas e é representada por associações mais gerais da doença mental com temas como casamento, sexualidade, raça, misticismo, trabalho e educação; embora não haja menção no material consultado ao diagnóstico de histeria.
  • Carmen Irene Correia de Oliveira
    Memória, narrativa e ciência: um estudo sobre remakes de ficção-científica
    Analisa filmes de sci-fi como espaço de constituição de elementos de uma memória da/para a ciência e, também os problematiza como veículos de informação científicas. Toma o fenômeno do remake para discutir a construção de representações imagéticas desses elementos ao longo do tempo e em diferentes produções. transmissão da narrativa envolve a sobreposição de memórias, indicando que estas recolocam imagens culturalmente válidas e significativas para determinado grupo, levando à permanência das últimas imagens que foram construídas e transmitidas (Fentress e Wickham). Analisa três conjuntos de produções: Planeta dos Macacos (1968; 2001); Guerra dos Mundos (1952; 2005); A Mosca (1958; 1986). O imaginário da ciência construído cinematograficamente é herdeira da literatura de sci-fi, do impressionismo alemão e do contexto sócio-político dos anos de 1950 (Guerra Fria). Mostra que as representações de ciência e de cientista assentam-se no contexto sócio-cultural de cada período de produção, indicando uma mudança de perspectiva nas versões mais recentes, principalmente quando estes protagonistas, cuja imagem negativizada foi fortemente construída a partir das conseqüências desmedidas do avanço técnico-científico, desaparecem para dar lugar a outros protagonistas, discursos e saberes.
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  • Carlos Augusto do Couto Albuquerque
    As Práticas Psiquiátricas no Brasil: endocrinologia, crime e loucura (1916-1940)
    O projeto pretendeu identificar e investigar as práticas da psiquiatria brasileira, correlacionando criminalidade, loucura e determinismo biológico entre 1916 e 1940. Esta pesquisa soma-se a outras realizadas desde 2002 na COC/ FIOCRUZ e que integram esforços de reunião de prontuários psiquiátricos em um banco de dados com apoio da FAPERJ. A pesquisa foi desenvolvida junto ao acervo do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Heitor Carrilho, a partir do mapeamento e análise do acervo documental existente.

    Essa pesquisa verificou o perfil das pessoas internadas (gênero, ocupação profissional, nacionalidade), correlacionando esses dados com os diagnósticos psiquiátricos. A análise concentrou-se nas mudanças ocorridas num contexto marcado pela ampliação do domínio do discurso psiquiátrico. Os conceitos de degenerescência e constituição física e a influência do discurso eugênico sancionaram a ampliação jurisdicional da psiquiatria no terreno da criminalidade, da infância, da raça e dos papéis sexuais.

    Os prontuários revelaram-se também uma fonte importante de informações sobre acontecimentos históricos, tais como: o surto de gripe espanhola em 1918, imigração e a Revolução de 30, entre outros.

  • Arthur Arruda Leal Ferreira, Flávio Vieira Curvello
    AS TÉCNICAS DE GOVERNO CONTEMPORÂNEAS E AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS: O CASO DA UTOPIA WALDEN II
    A partir do trabalho genealógico de Michel Foucault, um dos campos possíveis para o estudo do surgimento dos saberes psicológicos é o das práticas de governo. Por práticas de governo entende-se as formas como se estrutura a condução da conduta alheia, desde as formas pastorais do cristianismo primitivo até os modos atuais do Estado contemporâneo. O ponto chave dessa história encontra-se no século XVI, quando surgem os Manuais de Governo, fundamentados na “Razão de Estado”. Estes manuais estariam baseados na necessidade do disciplinamento e registro constante das ações dos governados, caracterizando o “Estado de polícia”. Contudo, no século XVIII surgem novas tecnologias de governo, patrocinadas pelos fisiocratas e liberais. A população é vista como um ente natural a ser governado não mais intervindo em todos os detalhes, mas acompanhando de modo científico todas as suas flutuações livres. Nestas novas formas de governo, a psicologia passa a ter especial importância. De modo mais específico, a pesquisa avaliará as técnicas de governo propostas a partir da utopia behaviorista de Skinner Walden II e encampada pela comunidade Los Horcones, existente no México. Mais do que uma técnica de governo psicológica, há aqui um governo psicológico à parte, o que a torna especial para exame.
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  • Karina Lopes Padilha
    AS TÉCNICAS DE GOVERNO CONTEMPORÂNEAS E AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS: A QUESTÃO DA CIDADANIA NA REFORMA PSIQUIÁTRICA
    A partir do trabalho genealógico de Michel Foucault, um dos campos possíveis para o estudo do surgimento dos saberes psicológicos é o das práticas de governo. Por práticas de governo entende-se as formas como se estrutura a condução da conduta alheia, desde as formas pastorais do cristianismo primitivo até os modos atuais do Estado contemporâneo. O ponto chave dessa história encontra-se no século XVI, quando surgem os Manuais de Governo, fundamentados na “Razão de Estado”. Estes manuais estariam baseados na necessidade do disciplinamento e registro constante das ações dos governados, caracterizando o “Estado de polícia”. Contudo, no século XVIII surgem novas tecnologias de governo, patrocinadas pelos fisiocratas e liberais. A população é vista como um ente natural a ser governado não mais intervindo em todos os detalhes, mas acompanhando de modo científico todas as suas flutuações livres. Nestas novas formas de governo, a psicologia passa a ter especial importância. De modo mais específico, a pesquisa avaliará as técnicas de governo propostas a partir da Reforma Psiquiátrica no bojo da questão da cidadania.
  • Cecília Chagas de Mesquita
    Planejamento familiar e contracepção: saúde, gênero e política pública na transição democrática (Rio de Janeiro, década de 1980)
    Pensando as inovações que o movimento feminista trouxe para a área da saúde da mulher e para o debate sobre contracepção e planejamento familiar no Brasil a partir do início do processo de redemocratização política - entre fins da década de 70 e início dos anos 80 -, analisaremos a extensão de suas conquistas, no que se refere à idéia de eqüidade nas relações de gênero, entre os atores envolvidos nesse processo: usuárias (os) dos métodos contraceptivos e dos serviços de planejamento familiar, profissionais da área de saúde, feministas, Estado e entidades privadas de planejamento familiar enquanto formuladores e executores de políticas populacionais no Brasil. Ao deslocar as questões da saúde reprodutiva da esfera religiosa e estatal para o campo da decisão individual e do direito social, a perspectiva feminista sobre a regulação da fecundidade favoreceu um consenso político a partir do qual diversos atores passaram a exigir que o Estado brasileiro superasse sua omissão no terreno das políticas públicas relativas a esse tema. Resultaria daí a formulação do PAISM (1983), que buscava reverter distorções no campo da atenção à saúde da mulher.


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  • Lia Gomes Pinto de Sousa
    Práticas naturalistas e feministas. Debate educacional e a construção da carreira de Bertha Lutz na comunidade científica e política das décadas de 1920 e 30
    Nessa pesquisa analisamos a trajetória da naturalista do Museu Nacional Bertha Lutz, nos anos iniciais de sua carreira nas décadas de 1920 e 30. Buscaremos compreender em que medida seu ingresso e atuação naquela instituição estão relacionados com o contexto de profissionalização e especialização científica no Brasil, e como participou em meio às culturas científicas – também políticas – e formas de sociabilidade de então. Este movimento, permeado pelo amplo debate em torno das reformas educacionais no país, teria contribuído ou ocorrido em consonância com outro tipo de manifestação social: uma vertente feminista bem articulada inclusive internacionalmente, justamente liderada por Bertha, que reivindicava os direitos de educação e profissionalização das mulheres. A orientação educativa do Museu Nacional, dedicando-se à instrução pública e “vulgarização” científica, principalmente durante a direção de Roquette-Pinto (1926/35), é considerada para avaliarmos o papel da instituição nesse processo – que marcou não apenas a consolidação da categoria profissional dos cientistas, como também o ingresso oficial, ainda que restrita e lentamente, das mulheres nas ciências. Na trajetória de Bertha Lutz, sua rede de relações e espaços de sociabilidade engendram ambas as dimensões.
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  • Alcidesio de Oliveira Júnior.
    Especialização médica e construção dos ‘endocrinopatas criminais’ na Criminologia, entre as décadas de 1930 e 1960: notas de pesquisa (I).
    Esta comunicação consistirá na apresentação de minha pesquisa de Doutorado. Tem como temática a interrelação entre a Medicina, sobretudo a Endocrinologia, e a Criminologia, na produção, divulgação e implementação de conhecimentos e tecnologias de controle relativos ao corpo e mente dos criminosos, no segundo e terceiro quarto do século XX.
    A Criminologia, em paralelo a sua função normativa e ‘civilizatória’, foi um espaço social de discussão sobre normas e condutas criminosas. Como fruto dela houve materializações de alguns projetos voltados para o controle social, dos socialmente considerados ‘indesejáveis’. Meu objeto de pesquisa são as teorias endocrinológicas veiculadas nas revistas de Criminologia e áreas afins, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo, no período entre 1930 e 1960. Onde analisarei o processo de construção da Endocrinologia enquanto especialização médica e, em seguida, pesquisarei a forma como ocorreu a construção do ‘endocrinopata criminal’, ou seja, da personalidade criminosa conseqüente de distúrbios ou má-conformação glandular, fazendo, em paralelo, uma discussão teórica das continuidades, rupturas e adaptações dos determinismos biológicos.

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